segunda-feira, 18 de julho de 2011


Surdez infantil

Surdez infantil

Do rastreio ao tratamento



A 26 de Setembro comemora-se o Dia Mundial do Surdo. Para assinalar a data, damos destaque nesta edição a esta anomalia congénita que está presente em dois a quatro de cada 1000 recém-nascidos, com diferentes graus de severidade (de ligeira a profunda ou total). Conheça os sinais de alerta e as recomendações dos especialistas.

As formas de surdez reversíveis podem conduzir a uma recuperação completa com o tratamento adequado

O nascimento de uma criança com deficit auditivo é sempre um acontecimento de enorme apreensão para uma família mas que deve ser analisado com toda a atenção. Acima de tudo, é fundamental explicar que “a surdez não é uma deficiência intelectual e que essa criança seguirá um programa de acompanhamento e as intervenções terapêuticas que lhe permitirão a integração com sucesso numa sociedade maioritariamente estruturada para os ouvintes”, esclarece o otorrinolaringologista Fernando Vilhena de Mendonça. Destaque para o papel da família na estimulação sensorial, na aprendizagem das técnicas de desenvolvimento e acima de tudo é importante esclarecer quais as diferentes alternativas que a ciência e a tecnologia disponibilizam para melhorar essa condição. “Apesar de, no nosso país ainda nos encontrarmos muito longe da satisfação das necessidades, existem diferentes estruturas que apoiam e orientam o desenvolvimento destas crianças. Destacam-se as Unidades de Surdos (US) e as instituições públicas – que têm como objectivo apoiar as crianças surdas em idade escolar, facultando-lhes apoio pedagógico, terapia da fala, promovendo também o ensino da língua gestual portuguesa, a língua oficial do surdo”, adianta o especialista.

Sinais de alerta
Podem surgir sintomas a que os pais devem estar atentos, como por exemplo, “a pouca reactividade ao som, a diminuição da frequência do palrar ou da sua entoação depois dos seis meses, o atraso no desenvolvimento da linguagem, o pedir para repetir (“Oquê? Ãh?”), colocar o volume da TV muito alto, ter discurso difícil de entender pelos pais aos três anos ou para desconhecidos aos quatro”, salienta Filipe Glória e Silva. Os pais são quem melhor conhece as crianças e as suas suspeitas devem ser sempre levadas a sério. E porque as boas notícias devem ser destacadas, saiba que “a maioria dos défices auditivos em crianças é benigna e transitória, estando relacionados com otites seromucosas recorrentes e são geralmente tratáveis e reversíveis. A surdez neurossensorial, afectando a parte mais sensível do aparelho auditivo, é mais rara mas é, em geral, irreversível e, nos casos severos, tem grandes repercussões na vida da criança. ” 50 % dos casos de surdez irreversível são hereditários, havendo outros casos que resultam de infecções no útero materno como a rubéola. “Outras situações resultam de infecções como a meningite, as infecções virais e os medicamentos tóxicos para o ouvido”, adianta o otorrinolaringologista. As crianças prematuras e de baixo peso, têm maior risco de sofrer de surdez irreversível.

“Uma boa audição é essencial para o desenvolvimento equilibrado da cognição, da oralidade da língua, da escrita e do relacionamento social e afectivo da criança”.

Desenvolvimento especial
De facto, uma boa audição é essencial para o desenvolvimento equilibrado da cognição, da oralidade da língua, da escrita e do relacionamento, social e afectivo da criança. “Sem uma intervenção adequada e precoce, a surdez congénita e a adquirida na infância, tem como consequência, déficits significativos em todas estas áreas de relacionamento, baixa literacia e auto-estima”, alerta Fernando Vilhena deMendonça. As crianças que ficaram surdas antes da aquisição de linguagem vão passar por um condicionamento major ao nível da aprendizagem. “A surdez afecta necessariamente o desenvolvimento da linguagem oral numa extensão que depende da sua gravidade. Por isso, deve haver um investimento na linguagem escrita e noutras formas de comunicação como a língua gestual e a leitura orofacial (leitura dos lábios)”, acrescenta o Dr. Filipe Glória e Silva, pediatra do desenvolvimento do Hospital CUF-Descobertas.
A surdez ligeira pode manifestar-se de forma mais subtil com dificuldade na atenção e problemas de comportamento. As formas de surdez reversíveis podem conduzir a uma recuperação completa como tratamento adequado.

O processo de confirmação do diagnóstico da surdez deverá estar completo até aos três meses de idade

Recomendações aos pais
Perante um diagnóstico de deficiência auditiva ou de surdez, é normal que os pais se sintam absolutamente desorientados. “É importante aconselhar-se com profissionais experientes nesta área, de modo a caracterizar a causa, o tipo e a gravidade da surdez, verificar se existem outros problemas associados e estabelecer um plano de intervenção e de seguimento precoces. Podem também procurar saber mais sobre a surdez através de diversas fontes e entrar em contacto com a associação de surdos da sua zona”, adianta o pediatra. Por outro lado, tem havido um grande desenvolvimento de aparelhos auditivos, cuja escolha depende da idade e das características da criança. “Em geral, requerem períodos de adaptação e ajustamentos. São dispositivos que amplificam e processam o som e o transmitem da forma mais conveniente ao nervo auditivo, para que a informação auditiva possa chegar ao cérebro”, salienta Filipe Glória e Silva. Nos primeiros meses, estes bebés, como todos os outros, precisam sobretudo de muito afecto e disponibilidade dos cuidadores para a interacção.

Rastreio auditivo neonatal
O Grupo de Rastreio e Intervenção da Surdez Infantil (GRISI) constituído em 2005 por otorrinolaringologistas, pediatras, audiologistas, enfermeiros e outros profissionais de saúde tem vindo a recomendar a implementação do intitulado Rastreio Auditivo Neonatal Universal (RANU). O objectivo é que “todas as crianças com défice auditivo congénito sejam identificadas antes dos três meses de idade e seja iniciada intervenção adequada até aos seis meses”, afirma o Dr. Fernando Vilhena de Mendonça, otorrinolaringologista. Todas as crianças devem ser testadas ao nascer ou, no máximo, até trinta dias de vida. “A metodologia a utilizar deve detectar todas as crianças com perda auditiva igual ou superior a 35 dB HL no melhor ouvido. Quando uma perda auditiva for identificada, deve proceder-se de imediato ao diagnóstico e à criação de uma estratégia de acompanhamento e de intervenção precoce. O processo de confirmação do diagnóstico da surdez deverá estar completo até aos três meses de idade”, esclarece o especialista.
A perda auditiva pode ocorrer após o nascimento, sendo de grande importância a sensibilização para a detecção precoce destes casos. “Se houver suspeita, deve consultar-se um especialista e proceder a testes de despistagem”, reforça Fernando Vilhena de Mendonça. Quando a intervenção se inicia antes dos 6 meses após um adequado diagnóstico, são conferidos melhores resultados ao nível escolar, defendem os especialistas.

Sapo Familia.

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