sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Déficit de atenção e treinamento cerebral

Déficit de atenção e treinamento cerebralO TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com ou sem Hiperatividade), mais conhecido simplesmente como déficit de atenção, é o transtorno mais comum em crianças e adolescentes encaminhados para serviços especializados. Ele se caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade e é tido como a principal causa de fracasso escolar.

Pesquisas em várias regiões do mundo estimam que o déficit de atenção esteja presente em cerca de 3% a 5% das crianças. E em mais da metade dos casos o transtorno acompanha o indivíduo na vida adulta, embora os sintomas sejam mais brandos.

O tratamento geralmente indicado baseia-se em medicamentos e psicoterapia. Porém, se nossa atenção pode ser melhorada através de exercícios, será que esses mesmos exercícios também podem auxiliar no tratamento do déficit de atenção? Pesquisas ao redor do mundo indicam que sim, mas a questão não é tão simples assim.

Primeiro é importante entendermos melhor esse transtorno que, apesar de ser chamado de déficit de atenção, pode ser mais bem definido como um problema no controle intencional da atenção ao invés de um déficit puro na habilidade de prestar atenção. Essa distinção, fundamentada por um corpo crescente de evidências neurocientíficas, é muito importante para a compreensão desse distúrbio tão impactante na sociedade.

Pais de crianças com TDAH, por exemplo, podem achar difícil de aceitar que uma criança que consegue passar horas absorta num videogame tenha um problema de atenção. Professores podem ficar confusos com um estudante que é totalmente dedicado à aula de música, mas é distraído ou disperso em outras aulas.

A Dra. Martha Denckla da Johns Hopkins University, nos EUA, explica que o problema está mais associado a como a atenção é alocada, pois alocar a atenção de forma apropriada para o sucesso escolar requer um grau de auto-controle para deixar de lado uma atividade preferida e focar numa atividade que pode não ser tão interessante ou recompensadora naquele momento.

Ainda não existe um consenso na comunidade científica sobre o que realmente pode estar acontecendo de errado nos cérebros dos indivíduos com TDAH. Existem várias teorias tentando explicar o transtorno: uma falha na inibição de reações, um problema com a memória de trabalho, a forma como a informação é processada no tempo, ou até padrões conflitantes de atividade neural. Cada uma dessas teorias oferece pistas intrigantes, mas ainda não respondem todas as questões.

No livro ADHD and the Nature of Self-Control, escrito pelo Dr. Russel Barkley, ele defende que os tratamentos mais efetivos são os baseados em medicação e em estratégias comportamentais, pois o TDAH trata-se mais de um problema de conseguir fazer o que se sabe do que de saber o que fazer. Essas estratégias compreendem desenvolver métodos para os alunos com TDAH serem lembrados constantemente das regras da sala de aula, por exemplo, ou de quebrar objetivos de longo prazo em vários objetivos de curto prazo, associados a recompensas.

Segundo o Dr. David Rabiner, da americana Duke University, esse tipo de abordagem ao tratamento representa mais um gerenciamento dos sintomas do que uma cura e, consequentemente, quando se para com o medicamento e com as estratégias, os sintomas tendem a retornar. Por isso, o tratamento é de longo prazo e os sintomas melhoram à medida que o sistema de auto-controle do cérebro amadurece e o indivíduo aprende a aplicar essas estratégias ao longo da vida.

Porém ele argumenta que, considerando que o cérebro possui plasticidade, ainda mais durante a infância, seria possível que crianças com TDAH tivessem resultados mais duradouros fazendo exercícios cognitivos. Esse raciocínio está embasado em estudos recentes que fornecem evidências animadoras.

Por exemplo, pesquisas recentes demonstraram que um treinamento computadorizado para memória de trabalho diminuiu os sintomas de TDAH e que esse benefício persistiu além da duração do treino em si. Também existe uma série de estudos em neurofeedback, um tipo de tratamento que tenta ensinar os indivíduos a alterar e controlar aspectos básicos do funcionamento cerebral, em que mudanças duradouras também foram relatadas.

Um desses estudos com treinamento computadorizado foi muito comentado pela mídia em 2005, sendo liderado pelo Dr. Torkel Klingberg, do Instituto Karolinska, na Suécia. O estudo consistia em avaliar a eficácia de um treinamento para a memória de trabalho num grupo de 53 crianças com TDAH e idades entre 7 e 12 anos, sem medicação estimulante. As crianças foram avaliadas antes do treinamento, logo após as 5 semanas de treinamento e, novamente, 3 meses depois.

Os resultados mostraram efeitos positivos no raciocínio complexo, na inibição de reações e na redução nos sintomas de TDAH verificados pelos pais. E muitos desses efeitos permaneceram mesmo 3 meses após o treinamento. Devido a esses resultados promissores, outros estudos foram realizados e essa linha de pesquisa continua crescendo.

O campo do treinamento cerebral computadorizado para ajudar nos casos de TDAH ainda é muito recente, mas já possui muitas evidências animadoras e não há contra-indicação. Portanto, se você possui déficit de atenção, experimente exercitar sua memória de trabalho e sua atençãoatravés de desafios variados, como os oferecidos pelo Cérebro Melhor, e veja como isso funciona para você.

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Não acredite em tudo que seus olhos veem

Não acredite em tudo que seus olhos vêemA neurociência explica que, apesar de nossas sensações parecerem precisas e verdadeiras, elas não necessariamente reproduzem a realidade física do mundo. Isso porque os mecanismos que, na maioria das vezes, reproduzem corretamente os estímulos físicos que chegam até o cérebro são os mesmos responsáveis por nossos sonhos, ilusões e lapsos, como se os sinais recebidos pelos nossos cinco sentidos não fossem processados corretamente pelo cérebro.

Portanto, a famosa expressão “ver para crer” nem sempre é verdadeira. Mais correto estava Sócrates quando disse: “Tudo que sei é que nada sei”. Ainda mais quando se está diante de uma imagem criada para iludir o seu cérebro – uma ilusão visual – justamente o tipo de experiência em que a percepção não corresponde à realidade física.

O estudo de ilusões visuais é de suma importância para se compreender os mecanismos básicos da percepção sensorial, bem como para se encontrar a cura de muitas doenças do sistema visual. Mas, enquanto os pesquisadores utilizam essas ilusões para fins científicos, nós podemos utilizá-las para fins didáticos e de entretenimento. E, por que não, também exercitarmos nossas habilidades de visão espacial! Veja a seguir uma seleção de ilusões visuais muito interessantes.

Essa é uma ilusão que desafia a gravidade e foi considerada a melhor ilusão do ano de 2010 por um concurso americano. O truque envolve uma construção tridimensional de quatro rampas que aparentam descer para fora do centro. Quando bolas são colocadas nas rampas, elas estranhamente sobem a rampa, como se um imã as tivesse atraído.

Esse truque, criado pelo japonês Kokichi Sugihara, é rapidamente compreendido quando a construção é vista de uma perspectiva diferente – cada rampa está na verdade descendo para o centro. Nosso cérebro é enganado porque assumimos que cada coluna de sustentação é vertical e que a coluna do centro é a mais alta. Mas na realidade, as colunas e as rampas estão inclinadas para criar a ilusão.

Ilusão das Torres de Pisa

Essa é uma ilusão tão intrigante quanto simples. As duas imagens da Torre de Pisa são idênticas, mas a da direita nos passa a impressão de estar um pouco mais inclinada do que a da esquerda, como se tivesse sido fotografada de outro ângulo.

A explicação é que nosso cérebro é enganado por seu próprio mecanismo de construir uma imagem mental 3D a partir de uma imagem 2D, enquanto tenta tratar as duas imagens como se fizessem parte de uma única cena. O cérebro interpreta que os dois objetos deveriam convergir no horizonte, como se fosse num desenho em perspectiva, porém, como eles não convergem, pensamos que estão desalinhados. Essa habilidade do cérebro é inconsciente e acredita-se que é desenvolvida durante a infância.

Ilusão do rosto gordo e magro

Veja nas imagens acima como um simples truque pode lhe ajudar a perder peso nas fotos – basta virar a foto do seu rosto de cabeça para baixo. Como você pode ver acima, as duas fotos são idênticas, porém somos levados a crer que a foto que está de cabeça para baixo tem um rosto mais longo e, portanto, mais fino.

Esse truque funciona porque nosso cérebro percebe o formato do rosto usando as proporções relativas dos elementos da face, como os olhos, nariz e boca. Então, quando essas proporções são invertidas ao virarmos a foto, a nossa percepção do formato do rosto é distorcida.

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Como nosso cérebro resolve quebra-cabeças

Como nosso cérebro resolve quebra-cabeçasQuem não gosta de quebra-cabeças? Toda vez que resolvemos um quebra-cabeças, como forma de recompensa nosso cérebro libera uma substância chamada dopamina, o que nos dá um imenso prazer. Pesquisas recentes sugerem que, além dessa recompensa, a simples ideia de resolver um quebra-cabeça geralmente coloca nosso cérebro num estado receptivo e lúdico que, por si só, já nos proporciona uma fuga prazerosa.

Quando resolvemos um problema, utilizamos basicamente dois processos, um analítico e outro intuitivo. A resolução de problemas pelo processo analítico requer o uso da inferência e da tentativa e erro, enquanto o processo intuitivo está mais associado à famosa “sacada”.Pesquisadores acreditam que esses dois processos não utilizam necessariamente as mesmas habilidades cerebrais, porém a solução criativa de problemas geralmente requer tanto análise quanto intuição, fazendo com que nosso cérebro alterne entre esses dois estados mentais até encontrarmos a solução.

Esse estado criativo em que a análise e intuição trabalham juntas utilizando todos os modos de pensamento gerou uma teoria chamada dememória inteligente. Este conceito é polêmico, pois acaba com a ideia de que um hemisfério do cérebro está mais associado à criatividade e até levou a outro conceito que questiona a prática do famoso brainstorming.

Estudos de neuroimagem avaliaram o que acontece no cérebro de pessoas se preparando para resolver um quebra-cabeças. Resultados sugerem que uma certa “assinatura” na atividade preparatória, que está fortemente correlacionada ao bom humor, pode ser observada no cérebro de pessoas mais propensas a resolverem quebra-cabeças utilizando a intuição instantânea do que a tentativa e erro. Essa assinatura inclui a ativação de uma área do cérebro que fica ativa quando a pessoa expande ou estreita sua atenção. Nesse caso de solução pelo processo intuitivo, os pesquisadores acreditam que o cérebro expande sua atenção, tornando-se mais aberto a distrações e a conexões nervosas mais fracas.

Para avaliar a influência do humor sobre a forma de se resolver quebra-cabeças, os pesquisadores fizeram com que pessoas assistissem a um vídeo antes. As pessoas que assistiram a um vídeo de comédia resolveram mais quebra-cabeças no geral, e significativamente mais pelo processo intuitivo, quando comparados às que assistiram a vídeos assustadores ou chatos.

A ideia de que o bom humor contribui para uma melhor solução criativa de problemas está presente em diversos estudos, inclusive um que o relaciona com a capacidade de notar mais detalhes visuais. A implicação é que um bom humor nos induz a um estado atencional mais amplo e difuso, que nos permite a enxergar e perceber mais, além de pensar de maneira mais ampla. E essa mesma técnica utilizada para resolvermos quebra-cabeças poderia ser, guardadas as devidas proporções, aplicada na resolução de problemas na vida real.

O problema é que nem sempre a intuição necessária para a solução de problemas de maneira criativa aparece no momento que mais precisamos. Segundo o autor de um conceito chamado de intuição estratégica, nossas melhores ideias surgem quando menos esperamos. É uma intuição diferente da intuição comum, aquela mais parecida com um sentimento vago, pois se trata de um pensamento claro. Também difere da intuição especializada, aquela relacionada com julgamentos instantâneos associados a padrões familiares, pois é lenta. A intuição estratégica é aquela que lhe fornece uma ideia clara para uma ação e que pode ficar “cozinhando” na sua cabeça por um bom tempo até emergir, justamente o que não acontece numa sessão de brainstorming.

Para os que não estão familiarizados com o termo, brainstorming é um processo colaborativo de geração de ideias em que vários participantes contribuem livremente com ideias para resolver um problema específico. A crítica do autor a essa prática é que ela não proporciona um momento calmo e contemplativo que precede a intuição estratégica, ou o lampejo criativo.

Já o conceito da memória inteligente refere-se à habilidade de juntar os vários pedaços da nossa memória num pensamento consistente e criativo. Ela é composta de três elementos: pedaços de memória (experiências, informações e conhecimento); as conexões entre esses pedaços; e o processo mental característico que mistura e combina os pedaços e conexões, criando um pensamento mais sofisticado. Segundo os autores do conceito, essa é uma habilidade que pode ser desenvolvida em qualquer momento da vida. O processo basicamente passa poraumentar a capacidade da memória de trabalho, da memória de longo prazo e da atenção, desenvolver técnicas para enxergar melhor as conexões entre essas informações e aprender a relacioná-las de maneira inteligente para se obter soluções criativas.

Esses conceitos já são utilizados por empresas para orientar o método de geração de soluções criativas em grupo. Começa por um processo de análise e discussão conjunta do problema a ser resolvido, seguido pela dispersão do grupo para que cada participante tenha a oportunidade de ter uma intuição estratégica e volte com uma boa ideia. Depois, o grupo se reúne novamente para avaliar as ideias e aperfeiçoar a melhor delas. Desta forma, o método contempla tanto os processos intuitivos quanto os analíticos da criatividade. E se isso tudo for feito com bom humor, os resultados tendem a ser até melhores.

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