quarta-feira, 25 de maio de 2011

Como explicar uma perda a uma criança?

Como explicar uma perda a uma criança?

Oi pessoal!
Sabemos que para muitos adultos lidar com a morte, principalmente de um ente próximo, é difícil. Como fazer isso então, com as crianças?
A maneira como as crianças apreendem o mundo envolve em grande parte o que chamamos de neurônios-espelho. A Neurociência descreve a atividade dos neurônios-espelho como um mecanismo por meio do qual experimentamos a empatia (do grego empatheia: sentir-se dentro de), reconhecemos as intenções de outros indivíduos observando seus comportamentos e espelhamos essa referência para a geração de comportamentos similares. As crianças com desenvolvimento normal ativam os neurônios-espelho do sistema límbico via ínsula (uma das estruturas que compõem o cérebro emocional) quando o significado emocional da imitação é experimentado e compreendido. Embora as crianças com idade inferior a 6 anos não tenham ainda completamente desenvolvida o que Piaget chama de “reciprocidade cognitiva” elas reagirão ao que lhes forem comunicado a respeito da morte conforme o conteúdo e a “embalagem” emocional que o adulto imprime nessa comunicação. Em outras palavras, se os pais estiverem tensos ao abordarem o tema morte, essa tensão será absorvida pelos filhos. Portanto, as comunicações dos pais sobre a morte devem ser tranqüilas, honestas, simples e diretas com palavras adaptadas ao nível de compreensão e desenvolvimento de seus filhos.
O que elas são capazes de compreender conforme a idade?
O que aprendemos nos primeiros dois anos de vida talvez seja mais importante que todo o conhecimento reunido ao longo de uma extensa formação acadêmica. Aprender a falar é aprender a traduzir, e atribuir palavras às experiências é criar significado e representação para elas. Vale lembrar que cada criança se desenvolve num ritmo particular e as referências listadas abaixo não podem ser consideradas herméticas. Crianças até 4 anos de idade não diferenciam propriamente fantasia de realidade, manifestam com frequência “pensamentos mágicos” (pautados no mundo subjetivo) e espelham as referências emocionais dos adultos relativas ao tema abordado. Portanto, o “como” a morte é abordada ganha mais saliência em relação a “o quê” é expresso em palavras. As crianças saudáveis nesta idade vêem a morte como temporária e reversível, como se a pessoa falecida fosse embora por algum tempo e pudesse voltar a qualquer momento, enquanto outras crianças com sofrimento exacerbado podem associar a morte ao castigo, a culpa (como se elas fossem causadoras do “problema”), a ansiedade/medo ou mesmo ao contágio generalizado. Entre os 5 e 10 anos de idade aproximadamente as crianças podem entender que a morte é real e permanente, ainda que a própria mortalidade não seja completamente compreendida. Os filhos podem criar neste período brincadeiras recorrentes (ex: “...estou morto deitado no chão”, “...sou morto invisível”, etc.), nas quais o entendimento do tema se faz. Os pais não devem repreender tais brincadeiras, ao contrário, devem acolher e deixar que elas aconteçam livremente para que o processamento da morte possa ocorrer naturalmente. Depois dos 10 anos as crianças podem compreender que a morte poderia acontecer com elas próprias e assim começam a perceber que as pessoas sabem que naturalmente vão morrer. As crianças entendem que o envelhecimento, as doenças e acidentes podem levar à morte e naturalmente se interessam em saber mais sobre os aspectos causais/biológicos envolvidos no morrer e os detalhes de rituais de passagem cogitados pelo entorno (familiar, escolar, mídia, etc.) como o funeral, velório ou missas. As crianças que sofrem demasiadamente com o tema podem desenvolver um quadro de ansiedade da separação, de fobias e de angústias associadas à incerteza/preocupação a respeito da possível ausência dos seus cuidadores. Os filhos pequenos apresentam a natural dificuldade de expressar o que sentem verbalmente, mas certamente se comunicarão por meio de comportamentos. A ausência de um familiar próximo como um avô ou avó pode eliciar irritabilidade/agressividade/irritação/impaciência como expressões de angústia, para a criança, ainda indescritível em palavras. Os pais devem observar a comunicação, prover suporte afetivo e oferecer possibilidades para expressão dos sentimentos (desenhos/pinturas, brincadeiras com personagens, conversas sobre histórias lidas sobre o tema, etc.) para gradativa atenuação da angústia respectiva a perda do ente querido. Quando os filhos identificam o que estão sentindo o conforto vem à tona sinalizando o processo bem sucedido de adaptação.
O que acontece com a criança quando os pais ocultam a morte ou não respondem suas perguntas?
De fato, o abalo emocional, a incerteza sobre o que dizer ou por onde começar a falar podem levar os pais ao aparente “silêncio confortável”. Assim, o tema morte pode despertar mais interesse à criança e favorecer a crescente angústia pela insolubilidade da questão ou ainda favorecer associações equivocadas entre fragmentos dispersos de discursos dos adultos que a criança tenha parcialmente compreendido. Os medos das crianças são em grande parte imaginários e os pais não devem favorecer a emersão de angústias e fobias em seus filhos a partir do silêncio ou de respostas evasivas, rápidas e confusas. O não dito é absorvido pela criança que nem sempre compreende o que de fato está ocorrendo. A criança percebe que “algo” é ocultado pelas mudanças de comportamento do entorno familiar e passam assim a desconfiarem dos pais em comportamentos retraídos, sem mais compartilharem suas próprias experiências, antes abertamente colocadas. As conseqüências podem ser ainda mais angustiantes reveladas em comportamentos desorganizados, agitados e sonhos assustadores sem conteúdo inteligível. Portanto, é importante que os pais sejam honestos com seus filhos e se não souberem responder a pergunta da criança que eles expressem abertamente isso (por exemplo “...a mamãe vai pensar um pouquinho para responder antes de irmos para escola”, “... o papai nunca pensou nisso, mas até o almoço eu pensarei e darei uma resposta”). Ressalto que ouvir com atenção a uma criança é muito importante, porque os adultos tendem a responder numa questão simples muito mais do que é perguntado. As perguntas das crianças devem ser ouvidas com atenção pelos pais para que eles possam de fato endereçar a resposta à questão solicitada pela criança. As respostas devem ser breves, simples e coerentes com um entorno emocional suave e tranqüilo. Antes que as crianças possam entender uma explicação, elas poderão ter que ouvi-la várias vezes. Portanto, os pais devem responder as perguntas sempre que solicitados, ainda que a estas sejam as mesmas por muitas vezes, para que o tema morte seja integrado em níveis superiores de compreensão por meio do processamento cognitivo gradativamente mais refinado. Em suma, oriento os pais a não deixarem seus filhos sem respostas uma vez que o silêncio não simplifica a vida da criança e tampouco a dos pais, ao contrário, promove confusão e angústia.
Muitos pais usam paliativos e mentiras (mesmo que brancas) como dizer que a pessoa viajou, que foi morar longe, que virou estrela, foi morar com papai do céu. Para animais, dizem às vezes que fugiu. É bom, é ruim, pode ser válido?
Os pais sentem com frequência que devem proteger as crianças mais novas da perda de um ente querido. As fantasias do tipo o vovô está dormindo, em uma longa viagem ou mesmo mentiras podem confundir e até mesmo assustar uma criança que está tentando entender a morte do ente querido. Os pais devem ir além de uma explicação lúdica e contar a verdade com clareza para melhor elaboração da perda. Sugiro que os pais falem sobre a morte com franqueza, brandura e aguardem os questionamentos de seus filhos para que eles possam entender gradativamente, a partir das respostas sinceras, o significado da morte na medida de suas capacidades cognitivas de processamento.
Além de falar com a criança, há a questão do cerimonial da morte. Elas devem ser levadas em velórios e enterros? E visitar pessoas doentes em hospitais?
Até os 11 anos de idade eu sugiro que os pais não levem os seus filhos a eventos com potencial expressão de desespero ou de grande comoção emocional, imediatamente após a morte. A criança não consegue ainda categorizar cognitivamente o que está ocorrendo e grande parte da informação fica fragmentada em conteúdos emocionais e sensoriais. Vale citar o exemplo de um paciente que aos 8 anos de idade foi ao velório de seu avô onde presenciou gritos desesperados de suas tias num ambiente com pouca luminosidade. Na idade adulta este paciente procurou a psicoterapia para tratar uma fobia de lugares escuros. Ao identificar a origem de sua aversão a incensos (que também estavam associados à ocasião do velório) e lugares escuros o paciente conseguiu atribuir significados para o que ocorreu e gradativamente superou a fobia. O desafio das abordagens terapêuticas dedicadas à superação do trauma é levar o paciente para fora desse “mundo indescritível” (sem representações) por meio da atribuição de significado aos conteúdos emocionais e sensoriais dispersos. As crianças não precisam ser expostas a tais eventos relacionados à morte potencialmente traumáticos como velórios ou enterros, mas podem participar de cerimoniais em que a expressão emocional dos adultos será certamente mais branda como, por exemplo, a missa de sétimo dia para os católicos. Caso a criança queira e o hospital permita, sugiro que ela possa visitar o ente querido hospitalizado, com as devidas explicações dos pais sobre o estado que o enfermo se encontra.
Há a religião e as crenças de cada família. Ela é importante para explicar essas situações para as crianças? Como fazer quando elas ouvem e vêem (com os colegas, na escola, na TV) crenças diferentes?
A religião está presente em todas as culturas como um importante agente equilibrador das relações do homem consigo mesmo, com seu meio e com Deus. Uma pesquisa conduzida em 2007 pelo Datafolha mostrou que apenas 1% da população brasileira não acredita na existência de Deus, 21% não acreditam em vida após a morte e 44% não acreditam em reencarnação. Lembro-me de uma criança católica com 11 anos, que perdeu seu querido avô, comentar em psicoterapia o que um coleguinha espírita de mesma idade lhe disse: “o seu vovô agora é um espírito amigo e ele pode voltar para sua família”. A criança em psicoterapia se sentiu confortada com a possível continuidade da vida e reversibilidade da morte. Os pais não sabiam como agir e pediram minha orientação a respeito. Mostrei-lhes estudos sobre o tema conduzidos por pesquisadores da Universidade de Virgínea entre outras que trouxeram dados sugestivos de evidências da reencarnação. Os pais então validaram essa possibilidade e comunicaram ao filho que a ciência estuda esse tema com seriedade ainda que eles, os pais, não tenham certeza sobre a existência ou não da reencarnação. Admitir honestamente para os filhos que às vezes não temos respostas para algumas perguntas confere segurança e confiança da criança em relação a fonte que provê as informações. A religiosidade e a espiritualidade estão fortemente enraizadas numa busca pessoal para compreender a vida, seu significado, suas relações com o transcendente e oferece suporte para responder a situações em que a fragilidade, a vulnerabilidade e os limites humanos são confrontados. Oriento os pais que cultivem a religiosidade em seus filhos alinhada a coerência do que e porque eles acreditam, que não é necessariamente o que todos acreditam. Além disso, os pais devem deixar claro às crianças que a diversidade é bem-vinda e existem várias religiões e maneiras de pensar sobre Deus e o mundo.
As crianças lidam melhor com a morte que os adultos?
As crianças questionam a morte com simplicidade e sem angústia e assim podem continuar se os pais as ajudarem com respostas simples, tranquilas, que façam sentido e tragam conforto em decorrência da compreensão absorvida. Até os 5 anos de idade a criança certamente teve algum contato com o tema morte, seja pelo falecimento de alguém de sua ou de outra família, de um animal de estimação, por ver um pássaro morto na rua ou animais mortos em estradas, insetos esmagados, etc. Esses eventos facilitarão o desenvolvimento de ideias e a elaboração de representações sobre a morte como um aquecimento saudável para a criança eventualmente enfrentar a perda de um ente querido. A conversa franca e afetuosa sobre a morte confere acolhimento e plenitude a criança para lidar com o tema e frequentemente, nós adultos ouvimos das crianças pontos de vista interessantes que muito nos ensinam.
Quais as dificuldades que a criança pode apresentar em relação a morte de um parente próximo?
Caso a comunicação dos pais não seja adequada, conforme respostas acima, a criança pode apresentar isolamento e aparente anestesiamento emocional escondendo um importante sofrimento, que muitas vezes notifica desafios de mudanças na dinâmica familiar para que uma melhor qualidade de vida seja gradualmente construída. Podem ocorrer algumas alterações abruptas de comportamento destoantes da dinâmica saudável anterior a perda, que comunicam uma dificuldade emocional. Deve-se atentar, por exemplo, à perda ou ao ganho de peso acentuado sem motivo aparente, à agressividade, à enurese noturna (voltar a fazer xixi na cama), à encoprese (evacuar sem controle do esfíncter), à introversão (quando a criança apresentava alegria e espontaneidade), à tristeza, ao isolamento, ao desânimo para realizar atividades que antes eram prazerosas etc. As crianças precisam atribuir significados para então conseguirem explicar o que ocorreu. É necessário decifrar (interpretar o que está mal escrito) a perda de um ente querido para superá-la e esta superação depende diretamente do tipo de apoio que a família provê com a orientação de especialistas.
Quais as principais dicas aos pais?
1. Aproveite pequenas mortes (como a de insetos) como oportunidades para a criança elaborar representações da morte e compreender o ciclo da vida.
2. Preste atenção a pergunta específica da criança e a responda com simplicidade.
3. Converse sobre a morte e seu significado em qualquer ocasião que as crianças sintam necessidade. Evite o silêncio.
4. Confira as interpretações das crianças a respeito da morte e converse sobre o tema com freqüência.
5. Ao falar sobre a morte tenha coerência entre suas expressões verbais, emocionais e comportamentais.
6. Comunique a morte com brandura, simplicidade e franqueza. É importante que o portador da notícia seja alguém próximo em quem a criança confia.
7. Aceite e acolha as expressões emocionais da criança sem tentar suprimi-las. Considere que a criança pode comunicar a dor da perda por diversos comportamentos e não apenas em palavras. Reações de agressividade, medo, isolamento, perda de sono e apetite podem ocorrer.
8. Ofereça possibilidades (desenhos/pinturas, brincadeiras com personagens, conversas sobre histórias lidas sobre o tema, etc.) para manifestação e reconhecimento dos sentimentos que a própria criança vivencia. O entendimento alivia a dor.
9. Fale sobre exemplos de pessoas que perderam entes queridos há algum tempo e que hoje vivem com qualidade.
10. Traga as boas lembranças da pessoa que morreu por meio de fotos, desenhos, histórias sobre hábitos, personalidade e momentos prazerosos vividos em família.
11. Tranqüilize as crianças quanto à própria segurança e procure manter a estrutura familiar e as rotinas dos filhos, se assim for possível.
12. Cultive a religiosidade e a espiritualidade nos filhos e compartilhe suas crenças religiosas de maneira coerente e tranquila.
OBS: grifos nossos.
*Júlio Peres é psicólogo clínico, doutor em neurociências e comportamento pelo Instituto de Psicologia da USP e autor do livro “Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam” (editora ROCA). Participou como especialista convidado do programa Papo de Mãe sobre PERDAS, exibido em 15.05.2011. Para maiores informações acesse o sitehttp://www.julioperes.com.br/.

A Chupeta


A Chupeta
*Por Henrique Klajner - pediatra

A chupeta é um assunto que preocupa educadores, pais e familiares. Introduzir ou não? Por quê? Para quê? Quando? Quando tirar? Há vantagens ou prejuízos com seu uso?
Essas dúvidas são universais, constantes. Não há um consenso. As opiniões de estudiosos e de leigos divergem e os “problemas” criados pela chupeta são invariavelmente trazidos para o pediatra ajudar a resolver.
A chupeta é um objeto que há muito tempo se dá à criança por vários motivos. Em primeiro lugar, ela induz o recém-nascido à sucção, reflexo natural, inato e instintivo através do qual ele se alimenta. O exercício do sugar fortalece toda musculatura da face, boca, língua, faringe, laringe, incrementando a boa nutrição (sucção forte estimula a produção do melhor leite pela mãe), o sono, a respiração, o berro e a mímica facial.
Foi comprovado que a amamentação nos seios é o melhor exercício de sucção por ser constante, repetitivo, cíclico e oferecer enorme resistência natural à saída do leite. Por isto, sempre oriento os pais a estimularem seus bebês a serem amamentados nos seios por todas as vantagens incontestes, para fortalecer a musculatura envolvida na sucção e potencializá-la ao máximo.
Porém, mesmo durante os intervalos entre as mamadas, esse reflexo de sucção se mantém e se revela pelo ato de sugar quando alguma coisa entra em contato com os lábios do bebê. Neste caso, a chupeta “ortodôntica” estimula muito a sucção e os exercícios musculares porque seu formato imita o bico dos seios durante a mamada.
Então, cientificamente, a chupeta é indicada para estimular a máxima sucção do recém-nascido e garantir a sua máxima nutrição. O reflexo da sucção é tão presente (parece que o bebê precisa, realmente, da sucção forte para sobreviver) que, sem chupeta, ele acaba sugando o dedo ou algo que esteja ao seu alcance.
Até dez anos atrás, eu pedia que, terminada a mamada e a eructação, ao por o bebê no berço, os pais oferecessem a chupeta ortodôntica para ele manter os movimentos de sucção e exercitar mais a musculatura. Mas, assim que adormecesse, cessados os movimentos, que tirassem a chupeta do berço e não voltassem a lhe oferecer antes de terminada a próxima mamada.
Mas, é normal o bebê mover-se, resmungar, “pigarrear” durante o sono e berrar quando tem alguma necessidade. Preocupados com essas manifestações, e ainda destreinados para cuidar do bebê, os pais acabavam interpretando estes sinais como necessidade de ter a chupeta e voltavam a lhe oferecer, antes mesmo de atinar com a sua causa.
Sem ter a necessidade satisfeita e, irritado por isso, recebendo a chupeta, o bebê acaba por adormecer (o sono é imperioso). Depois de três experiências semelhantes, a chupeta é por ele incorporada como necessidade básica (porque foi instituída pelos “dirigentes” do seu meio), reclamada quando não a tem à disposição e utilizada pelos pais e cuidadores como “calmante do bebê irritado”. Esquecem que a irritação não começou por causa da falta da chupeta, mas, sim, pela não satisfação da sua necessidade primária.
Com o tempo, a chupeta passa a integrar o “mundo verdadeiro” da criança como condicionamento e elemento obrigatório para a sua estabilidade psico-emocional, muito difícil de ser eliminada pelos “escândalos” que provoca nas tentativas de suprimi-la (os pais cedem para evitá-los). Assim, sua presença na boca torna-se praticamente contínua levando a várias conseqüências funestas e indesejáveis como: perda de apetite (com má nutrição, baixo ganho pondo-estatural), distenção abdominal constante com dor (excessiva deglutição de ar), deformidade do palato e da dentição primária e secundária, respiração predominantemente bucal, excesso de baba, dislalias (erros na articulação dos fonemas – falar errado).
Uma das mais importantes conseqüências do uso prolongado da chupeta é ela simbolizar a valorização excessiva da boca e da sucção pelo seu meio, fazendo com que a criança se “fixe” na fase oral e não consiga avançar para as fases seguintes - mantém-se infantilizada, com sérios retardos nas auto-aquisições importantes para a sua evolução e maturidade. Assim, ela continua a utilizar a boca e a sucção como elementos importantes para seu relacionamento com o mundo, principalmente em situações de estresses que não consegue administrar: roer unha, chupar dedos, mascar chicletes e outros objetos e, na adolescência, fumar com suas conseqüências.
Há cerca de dez anos, percebi que não conseguiria manter os pais distantes da tentação de oferecer a chupeta além do necessário. Então, para evitar as conseqüências do seu “super-uso”, a solução seria retirá-la da rotina da criança antes dos dez meses de idade, enquanto a dependência ainda não estivesse instalada. Mas, diante da sua insistência escandalosa em mantê-la, os pais não conseguiam ser firmes o suficiente para isso e o seu uso tornava-se um vício que se perpetuava sem perspectivas de um final feliz.
Concomitantemente, verifiquei que a amamentação e a futura saúde bucal se mantinham excelentes nas crianças as quais eu pedia para que nunca a oferecesse. Então, concluí que a chupeta poderia ser definitivamente afastada de todas as crianças, mesmo depois dos dois meses, quando todas têm grande necessidade de morder a mão devido à dentição, e mesmo daquelas pertencentes aos 15% que, depois, tendem a chupar o dedo.
Atualmente, a minha orientação é de que a chupeta nunca é necessária. Sua utilidade se resume às crianças portadoras de patologias neurológicas ou de malformações causadoras de sucção fraca e retardos que necessitam de uma estimulação ostensiva. E, assim mesmo, sob a orientação de especialistas.

* Dr. Henrique Klajner (klajner@uol.com.br) é pediatra, formado pela Faculdade de Medicina da USP (1965), especializado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, professor em cursos de especialização, mestrado e doutorado e autor de 4 livros livros (o último, entitulado “A auto-estimulação e seus reflexos na educação global”, ainda em fase final de edição)