sábado, 31 de março de 2012

A vida e morte do neurônio



A vida e morte do neurônioNão faz muito tempo que os cientistas acreditavam que nascíamos com todos os neurônios que sempre teríamos. Mas em 1962, o cientista Joseph Altman desafiou essa crença quando notou evidências de neurogênese (o nascimento de neurônios) numa região do cérebro de camundongos adultos chamada de hipocampo. Posteriormente ele relatou que neurônios recém-nascidos migravam do seu local de nascimento no hipocampo para outras partes do cérebro.
Essas descobertas sobre a neurogênese no cérebro adulto surpreenderam os cientistas, mas muitos ainda acreditavam que elas não se aplicavam aos humanos. Foi quando Elizabeth Gould descobriu evidências de neurônios recém-nascidos em chimpanzés, e Fred Gage e Peter Eriksson demonstraram que o cérebro adulto humano também produzia novos neurônios.
O sistema nervoso central (que inclui o cérebro e a coluna vertebral) é composto de dois tipos básicos de células: os neurônios e as da glia. Estima-se que as células da glia superam em quantidade os neurônios em até nove vezes, mas mesmo em menor número são os neurônios que desempenham os papéis principais no cérebro. Os neurônios são mensageiros de informações, utilizando impulsos elétricos e sinais químicos para transmitir informações entre áreas diferentes do cérebro, e entre o cérebro e o resto do sistema nervoso.
Apesar da maioria dos neurônios já estarem presentes no cérebro desde o nosso nascimento, há evidências de que a neurogênese ocorre ao longo de toda a vida. Os neurônios nascem em regiões do cérebro que são ricas na concentração de células precursoras neurais (também chamadas de células-tronco neurais). Essas células têm o potencial de gerar quase todos, se não todos, os diferentes tipos de neurônios e glia encontrados no cérebro.
Uma vez que o neurônio nasce, ele tem que viajar para o lugar do cérebro onde ele vai trabalhar. Isso ocorre através de um complexo sistema de longas fibras de células da glia e de sinais químicos que guiam os neurônios através do cérebro até o seu destino final.
Nem todos os neurônios sobrevivem a essa jornada migratória de duas a três semanas. Cientistas acreditam que apenas um terço dos neurônios chega ao destino final e se estabelece de forma efetiva. Nesse processo chamado de diferenciação, um dos menos compreendidos da neurogênese, o novo neurônio passa a se assemelhar aos seus vizinhos e começa a desenvolver canais de comunicação com os mesmos.
Os demais neurônios não conseguem se diferenciar ou morrem, mas há também os que sobrevivem à jornada, mas acabam em lugares errados. Mutações nos genes que controlam a migração criam regiões de neurônios deslocados ou malformados que podem causar distúrbios como a epilepsia infantil ou retardamento mental. Alguns pesquisadores suspeitam que a esquizofrenia e a dislexia são em parte o resultado desses neurônios perdidos.
Apesar dos neurônios serem as células mais longevas do nosso corpo e um grande número de novos neurônios morrerem durante o processo de diferenciação e migração, a vida de alguns neurônios saudáveis também pode sofrer reveses. Danos físicos ao cérebro e à coluna vertebral, como um traumatismo ou um derrame (AVC), podem matar neurônios imediatamente ou lentamente matá-los de falta de oxigênio e nutrientes necessários à sua sobrevivência. Algumas doenças do cérebro, como as de Parkinson, Alzheimer e Huntington, são o resultado da morte não natural de neurônios.
Cientistas buscam entender cada vez mais sobre a vida e morte dos neurônios na esperança de desenvolver novos tratamentos, e possivelmente até curas, para doenças e distúrbios cerebrais que afetam milhões de pessoas no mundo todo.
Para nós é importante entendermos os fatores que afetam a vida e morte dos neurônios para podermos garantir uma vida mais longa e com bem-estar, tomando atitudes que promovam o nascimento de novos neurônios e adiem a sua morte, tais como: exercícios físicos, estímulos cognitivos (jogos para o cérebro), alimentação balanceadasono adequado,socialização e controle do estresse.

quarta-feira, 21 de março de 2012

Vamos comemorar de mãos dadas o Dia Internacional da Síndrome de Down!!



Vamos comemorar de mãos dadas o Dia Internacional da Síndrome de Down!!


Dia Internacional da Síndrome de Down foi proposto pela Down Syndrome International como o dia 21 de Março, porque esta data se escreve como 21/3 (ou 3-21), o que faz alusão à trissomia do 21. A primeira comemoração da data foi em 2006.

"Ser diferente é ser normal." Afinal, quem não é diferente?!!

Vitória Feitosa

terça-feira, 13 de março de 2012

Boa forma mental na meia idade e além



Boa forma mental na meia idade e alémNão faz muito tempo que era senso comum pensar que uma pessoa era produtiva somente até os 40 anos de idade, como se a capacidade intelectual, criatividade e inovação tivessem prazo de validade. Da mesma forma, acreditava-se que os neurônios simplesmente morriam sem serem renovados, ou que a capacidade de aprendizado era perdida ao longo dos anos.
É claro que algumas habilidades diminuem quando se envelhece, mas algumas pessoas são melhores em retardar essas perdas do que outras. E pesquisadores querem entender o porquê. Por que seu vizinho de 70 anos consegue ter uma memória igual à de uma pessoa com metade dessa idade, enquanto seu parente de 40 anos tem a memória de um idoso?
De acordo com pesquisas recentes, um elemento essencial para a boa forma mental já foi identificado. A educação parece ser um elixir que pode proporcionar mente e corpo saudáveis ao longo da vida adulta e também uma vida mais longa. Para aqueles que estão na meia idade ou além, um diploma de faculdade parece retardar o processo de envelhecimento cerebral em até uma década.
Essa é uma das descobertas de um estudo enorme que está sendo conduzido nos EUA desde os anos 90, chamado de MIDUS (sigla para Meia Idade nos Estados Unidos). O que torna esse estudo particularmente valioso é que os pesquisadores podem rastrear a mesma pessoa por um longo período de tempo para ver quais habilidades estão piorando e quais estão melhorando.
Muitos pesquisadores acreditam que a inteligência humana consiste em dúzias de habilidades cognitivas variadas, as quais eles geralmente dividem em duas categorias: inteligência fluida e inteligência cristalizada.
As habilidades que caem na categoria de “inteligência fluida” são aquelas que produzem soluções não baseadas em experiência, como reconhecimento de padrões, memória de trabalho e raciocínio abstrato, justamente o tipo de inteligência avaliada nos testes de QI. Essas habilidades tendem atingir seu pico entre os 20 e 30 anos de idade.
Por outro lado, a “inteligência cristalizada” geralmente se refere às habilidades que são adquiridas através da experiência e educação, como habilidade verbal, raciocínio indutivo e julgamento. Enquanto a inteligência fluida é por muitos considerada principalmente um produto da genética, a inteligência cristalizada é mais dependente de influências diversas, como personalidade, motivação, oportunidade e cultura.
Num estudo publicado nos últimos anos, pesquisadores provaram que, quando se trata de sabedoria, a experiência pode ser mais importante que a biologia, principalmente na resolução de conflitos e dilemas sociais. Eles descobriram que, apesar da queda na inteligência fluida, raciocínios complicados que envolvem pessoas, questões morais ou instituições políticas melhoram com a idade.
Voltando ao estudo MIDUS, os pesquisadores queriam saber se algo podia ser feito para frear esse aparentemente contínuo declínio da inteligência fluida ao longo dos anos. Então eles desenvolveram diversos testes de memória, cálculo e raciocínio que poderiam ser aplicados nos milhares de participantes.
Como previsto, pessoas com mais de 50 anos tiveram um pior desempenho nos testes de memória e velocidade de raciocínio do que pessoas mais jovens. O cérebro envelhecido era mais facilmente distraído e mais lento em resgatar informações. Mulheres geralmente eram melhores que os homens no teste de lembrar uma lista de palavras, enquanto que os homens eram melhores em encontrar padrões numéricos e reagir rapidamente a alterações de instruções.
Os mais consistentes resultados envolviam a educação. Igualando todos os demais fatores, quanto mais anos de escola um indivíduo tinha, melhor ele ou ela desempenhava em todos os testes mentais. Até os 75 anos de idade, os indivíduos com diploma de ensino superior conseguiam um desempenho em tarefas complexas igual a indivíduos dez anos mais jovens com menos educação. Além disso, a educação estava associada a uma vida mais longa e a um menor risco de demência.
Numa outra análise, os pesquisadores descobriram que os indivíduos podiam compensar as desvantagens educacionais. Todos os que regularmente desafiavam seus cérebros – lendo, escrevendo, assistindo palestras ou fazendo jogos – tinham um melhor desempenho em inteligência fluida do que aqueles pouco adeptos a desafiar o cérebro.
O treinamento mental regular pode realmente alterar os circuitos neurais do cérebro em qualquer idade, estimulando regiões do cérebro responsáveis por habilidades como memória, aprendizado e tomada de decisão.
Em ainda outra análise, os pesquisadores mostraram que adultos, particularmente os homens, com baixo nível de educação podiam também melhorar o desempenho mental simplesmente usando um computador.
É por isso que o Cérebro Melhor, a primeira academia de ginástica online para o cérebro no Brasil, oferece uma série de jogos para melhorar as habilidades cognitivas. E ainda analisa o desempenho do usuário comparando com o desempenho de indivíduos do mesmo sexo, idade e escolaridade.
Quando a equipe do MIDUS reuniu todos os dados, eles notaram outras semelhanças entre os indivíduos com fortes habilidades cognitivas. Idosos que desempenhavam tão bem quanto jovens adultos em inteligência fluida costumavam compartilhar, além de um diploma de ensino superior e a prática regular de exercícios mentais, as seguintes características:
•    Eles faziam exercícios físicos frequentemente;
•    Eles eram socialmente ativos, vendo amigos e familiares, voluntariando e participando de reuniões frequentemente;
•    Eles eram melhores em se manter calmos diante de situações estressantes;
•    Eles se sentiam mais em controle das suas vidas.
Numa época em que a perspectiva de uma vida mais longa é atormentada pelo medo do declínio mental, a possibilidade de termos algum controle sobre esse declínio com uma boa forma mental é reconfortante. Então, comece agora a cuidar da sua boa forma mental seguindo as dicas acima e também as dicas de bem-estar do Cérebro Melhor.
 

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher



Parabéns a todas as mulheres do Mundo pelo Dia Internacional da Mulher.


Vitória Feitosa

terça-feira, 6 de março de 2012

Inclusão escolar de crianças e adolescentes com paralisia cerebral: esta é uma realidade possível para todas elas em nossos dias?



Lúcia Helena C. dos SantosI; Karen Pangracio GrisottoII; Danielle Caldas B. RodriguesIII; Isac BruckIV
Instituição: Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, PR, Brasil
IDoutora em Neurologia pela Universidade de São Paulo; Professora do Departamento de Pediatria da UFPR, Curitiba, PR, Brasil
IIResidente em Neurologia Infantil da UFPR, Curitiba, PR, Brasil
IIIMestre em Pediatria pela UFPR, Curitiba, PR, Brasil
IVFellow em Neurologia Infantil na Universidade da Califórnia; Professor do Departamento de Pediatria da UFPR, Curitiba, PR, Brasil



RESUMO
OBJETIVO: Descrever a distribuição escolar de um grupo de crianças e adolescentes com paralisia cerebral (PC) e analisar o impacto da função motora grossa e outros déficits no processo de inclusão.
MÉTODOS: Estudo prospectivo de pacientes do Ambulatório de Paralisia Cerebral da Universidade Federal do Paraná, avaliados em 2005. Pais ou cuidador completaram um questionário com dados relativos a: tipo de escola frequentada, dificuldades do aprendizado e necessidade de suporte psicopedagógico e fonoaudiológico. Os dados obtidos incluíram quem era o cuidador primário, seu nível de escolaridade e renda. As variáveis coletadas dos prontuários foram antecedentes perinatais e pós-natais, classificação topográfica da PC e função motora (Sistema de Classificação Motora Grossa - SCFMG), classificação da fala e presença de epilepsia.
RESULTADOS: 105 crianças e adolescentes foram incluídos. A média de idade foi 10,8 anos, 61 (58%) masculinos. Dentre as 105 crianças, 97 (92%) frequentavam a escola, 36 (34%) em classe regular, 7 (6,5%) em classe especial e 54 (51%) em escola especial. Crianças que frequentavam a escolar regular apresentavam predominantemente SCFMG nível I ou II, hemiplegia, epilepsia ausente ou com bom controle e fala normal ou disartria. Aqueles em escola especial eram crianças com SCFMG níveis III, IV e V, diplegia ou tetraplegia, epilepsia refratária e atraso na fala ou sua ausência.
CONCLUSÕES: Até o momento, a inclusão de crianças com PC em escolas regulares parece trazer benefícios para aquelas com hemiplegia, nível I ou II do SCMFG, sem epilepsia e com fala normal.
Palavras-chave: paralisia cerebral; inclusão escolar; criança; adolescente.



Introdução
Paralisia cerebral (PC) descreve um grupo de desordens permanentes do desenvolvimento do movimento e postura que causam limitação nas atividades e são atribuídas a alterações não progressivas que ocorreram no cérebro fetal ou lactente. As desordens motoras da PC são frequentemente acompanhadas de distúrbios sensoriais, de percepção, cognição, comunicação e comportamento. Epilepsia e problemas musculoesqueléticos também são observados com frequência nessas crianças(1). A PC ocorre em, aproximadamente, dois em cada mil nascidos vivos, sendo a causa mais comum de incapacidade física na infância(2,3).
Pode-se classificar a PC considerando-se o tipo de movimento, a distribuição topográfica, a etiologia, o momento do insulto, os achados de neuroimagem, entre outros(1). Palisano et al(4) desenvolveram o Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (SCFMG), publicado em 1997, o qual teve ampla aceitação entre clínicos e pesquisadores do mundo inteiro. Esse sistema foi desenvolvido em resposta à necessidade de padronização na classificação da função motora grossa de crianças com PC de um a 12 anos(4). O ponto focal é o movimento iniciado pela própria criança. O SCFMG é baseado em cinco níveis de graduação ordinal, e a distância entre eles não pode ser considerada igual, não sendo esperado que as crianças com PC estejam igualmente distribuídas entre os níveis. A diferenciação entre os níveis do SCFMG se relaciona às limitações funcionais e à necessidade de tecnologia assistida, incluindo acessórios para a mobilidade e uso de cadeiras de rodas, mais do que a qualidade de movimento(4). A adaptação dessa classificação para a língua portuguesa está disponível no sitehttp://www.hc.ufpr.br/acad/pediatria/index.htm.
A Organização Mundial de Saúde(5) considera que a habilidade em realizar atividades e participar de situações corriqueiras é um componente essencial para se ter saúde. Assim, acredita-se que a inclusão de crianças com necessidades especiais no ensino regular propiciaria progressos no seu desenvolvimento e melhora na sua qualidade de vida. Schenker et al(6) examinaram a relação entre participação e desempenho na escola (ensino regular e classe especial) e comprometimento motor (SCFMG), cognitivo e comportamental. Seus resultados sugerem que a participação e o desempenho aumentam naqueles com menor incapacidade motora. Nas crianças incluídas integralmente em classe regulares, o impacto das dificuldades na comunicação e no aprendizado foi menor do que naquelas em classes especiais. A Unesco(7) desenvolve um projeto mundial de incentivo à inclusão de crianças com incapacidades no sistema geral de educação, constatando-se aumento do número de programas de inclusão nas últimas décadas. No Canadá, desde os anos 1970, a proporção de crianças com PC em classes regulares aumentou de 20 para 75%(8).
A inclusão em escolas regulares de pessoa portadora de deficiência, incluindo física, auditiva, visual e mental, tornou-se obrigatória no Brasil, com a sanção, pelo Presidente da Republica, do decreto nº 3.298, de 20 de Dezembro de 1999, que regulamentou a lei provisória de 24 de Outubro de 1989, a qual propunha a integração da pessoa portadora de deficiência(9). Nesse contexto, este estudo teve por objetivo analisar as inter-relações entre as dificuldades funcionais das crianças com PC dentro do contexto escolar e avaliar as diferenças nos níveis de participação de acordo com o tipo de PC, nível funcional e demais déficits neurológicos associados. E, ao final, discutir se todas as crianças com PC se adaptam ao sistema de inclusão previsto pela lei referida.

Método
Foram convidados a participar deste estudo 105 pais de crianças e adolescentes com diagnóstico de PC em acompanhamento em um Centro Terciário de Neuropediatria, no ambulatório de Paralisia Cerebral do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), com retornos agendados anteriormente, atendidos consecutivamente no período de março a julho de 2005, configurando uma amostra de conveniência. Os critérios de inclusão foram: diagnóstico de PC, acompanhamento regular no ambulatório e idade até 19 anos. Os critérios de exclusão foram: cuidadores que não dispunham das informações solicitadas no momento da consulta e que não concordassem em participar do estudo, além de cuidadores não alfabetizados ou com algum impedimento para o preenchimento do questionário (sem óculos). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana da UFPR, e foi obtido o consentimento informado dos pais/responsável para a participação.
Os dados coletados dos prontuários foram: antecedentes pré-natais, perinatais e pós-natais que justificassem a PC, o tipo de movimento predominante da PC, a classificação topográfica da PC, o nível do SCFMG, a classificação da fala (normal, disartria, atraso e ausente) e a presença de epilepsia e seu controle. No momento da coleta dessas informações e na presença do paciente, todos os dados foram discutidos com a primeira autora, responsável por esse ambulatório. Foi solicitado aos pais e/ou cuidadores o preenchimento de questionário padronizado sobre a situação escolar da criança, tipo de escola e tipo de classe frequentada, dificuldades específicas no aprendizado e necessidade de apoio psicopedagógico ou fonoaudiológico. Indagou-se também quem era o principal cuidador da criança, seu nível de escolaridade e renda familiar per capita. A defasagem escolar para a faixa etária da criança foi calculada ao final da entrevista. Esses questionários foram respondidos pelos pais durante a consulta e as dúvidas pertinentes, respondidas pela primeira autora.
Os dados foram tabulados em uma planilha e analisados por meio do programa MedCalc, utilizando-se o teste do qui-quadrado para avaliar as associações entre as variáveis categóricas.

Resultados
O ambulatório de PC tem registrado, aproximadamente, duas mil crianças, adolescentes e adultos jovens com o diagnóstico de PC, sendo que metade delas faz acompanhamento regular. No período do estudo, cinco participantes não foram incluídos, três deles pela condição de cuidador não alfabetizado e dois sem óculos. Assim, dos 110 pacientes atendidos no período do estudo, 105 foram analisados.
Como características gerais, houve predomínio do gênero masculino, com 61 (58%) participantes. A idade média foi de 10,8 anos, variando de seis a 19 anos, com desvio padrão (DP) de 3,6 anos. Dentre as crianças e adolescentes analisados, 91 (87%) tinham como cuidador a mãe, seis (6%) o pai e oito (7%) outras pessoas. Quanto ao nível de escolaridade do cuidador, 2% eram analfabetos, 49,5% tinham o primeiro grau incompleto, 16% primeiro grau completo, 14% não completaram o segundo grau, 13% completaram o segundo grau, 3% tinham ensino superior incompleto e 2% completaram o nível superior. A renda familiar variou de R$ 40,00 a R$ 500,00, com uma média de R$ 196,06 (DP=103,34). Existiam 9,6% de famílias que sobreviviam apenas do benefício recebido pela criança do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Em relação à etiologia da PC, 25% tinham causas relacionadas ao período pré-natal, sendo as malformações e o acidente vascular cerebral os mais encontrados; 56% das causas eram oriundas do período perinatal, sendo a hipóxia-isquemia e a prematuridade os maiores representantes; em 14%, a etiologia da paralisia cerebral era pós-natal e, em 5%, a causa era desconhecida. Dos 105 pacientes, 91 tinham espasticidade, sendo que 31 (29,5%) apresentavam hemiplegia: 12 (39%) à direita e 19 (61%) à esquerda; 14 (13%) pacientes eram diplégicos, 23 (22%) contavam com dupla hemiplegia e 23 (22%), tetraplegia. A forma mista foi observada em 14 (13%) pacientes. No SCFMG, 19 (18%) crianças encontravam-se no nível I, 23 (22%) no nível II, 13 (12%) no nível III, 27 (26%) no nível IV e 23 (22%) no nível V.
Dos 105 pacientes, 97 (92%) estavam frequentando a escola, sendo que 36 (34%) frequentavam classe regular, sete (6,5%) classe especial dentro da escola regular e 54 (51%) frequentavam escola especial (Tabela 1). Das 36 crianças em escola regular, 18 tinham uma defasagem média de dois anos da série adequada para a sua idade e 12 estavam recebendo apoio psicopedagógico. A maioria destas apresentava espasticidade, sendo 23 com hemiplegia, cinco com diplegia e cinco com dupla hemiplegia. Três apresentavam a forma mista. Quanto ao SCFMG, 14 estavam no nível I, 14 no nível II, cinco no nível III e três no nível IV. Entre aquelas que frequentavam classe especial, também houve predomínio da espasticidade, sendo quatro com hemiplegia e uma com dupla hemiplegia. Duas crianças apresentavam a forma mista de PC. Três foram classificadas no nível I do SCFMG, três no nível II e uma no nível III. A espasticidade ocorreu em todas as crianças em escola especial, sendo 21 com tetraplegia, 14 com dupla hemiplegia, oito com diplegia e três com hemiplegia. Quanto ao SCFMG, 21 crianças estavam classificadas como nível IV e 18 como nível V. Entre as crianças que não frequentam a escola, também houve predomínio da espasticidade, sendo duas com tetraplegia, três com dupla hemiplegia e uma com hemiplegia. Um paciente apresentava a forma mista.
Em relação às alterações neurológicas associadas, o distúrbio da linguagem e fala esteve presente em 85 (80%) pacientes. Destes, 27 não falavam, 20 tinham atraso de linguagem e 38 apresentavam disartria. O acompanhamento com fonoaudióloga era feito por 61 (58%) crianças, com início do tratamento aos 68 meses de idade em média (DP=38,5 meses) e duração média de acompanhamento de 46 meses (DP=20 meses). Na Tabela 2, pode-se observar que, entre as crianças em ensino regular, houve predomínio de fala classificada como normal seguida pela disartria, com apenas um paciente com fala ausente; naquelas em classe especial, a disartria foi a alteração mais frequente; já, em escola especial, a maioria das crianças apresentava fala ausente, seguida por atraso e disartria e apenas três pacientes contavam com fala normal.
Quanto à visão, dez pacientes apresentavam déficit visual, dois deles em classe regular, um em classe especial e sete em escola especial. O déficit auditivo esteve presente em três (3%) pacientes, todos em escola especial.
A epilepsia esteve presente em 48 (46%) pacientes, sendo 34 com bom controle e 11 destes em classe regular. A epilepsia de difícil controle foi observada em 14 pacientes, sendo que nove estavam em escola especial, quatro não frequentavam escola e apenas um estava em classe regular.

Discussão
As políticas de integração e inclusão em atividades escolares regulares têm incentivado a participação social de pacientes com incapacidades. A escola constitui um ambiente primordial para a educação e socialização das crianças em desenvolvimento, e as atividades escolares trazem resultados positivos para a saúde e bem-estar da criança e do adolescente. Simeonsson et al(10) estudaram grupos de crianças com necessidades especiais em classes regulares e especiais e observaram que crianças em classes regulares apresentavam maior interação social com crianças sem deficiências e mais amigos, quando comparados àqueles em classe especial.
Todas as crianças e adolescentes deste estudo tinham o diagnóstico de PC com algum outro déficit associado ao comprometimento motor e apresentavam-se em diferentes níveis do SCFMG. Há poucos estudos que relacionam as incapacidades e a participação nas atividades escolares. Os resultados da presente investigação mostram que a frequência de inclusão em ensino regular dependeu de melhores níveis funcionais (níveis I e II do SCFMG) e menor intensidade de déficits associados. Crianças com déficit visual ou auditivo não frequentavam ensino regular. Schenker et al(6) observaram que dificuldades visuais constituem um obstáculo para essas crianças chegarem a frequentar uma sala regular. Os autores também observaram diferenças significativas na participação e desempenho de crianças de diferentes níveis do SCFMG, sendo a participação mais restrita naqueles com níveis III e IV do SCFMG e ausente nos portadores de nível V, provavelmente por tais frequentarem instituições específicas norte-americanas. No presente estudo, também se observou que a maior parte das crianças em ensino regular apresentava hemiplegia e nível I ou II do SCFMG, de modo similar ao observado por Schenker et al(6). Mancini et al(11) classificaram as crianças apenas pelo grau de gravidade das limitações motoras e perceberam que a diminuição na participação pode estar associada mais ao aumento da incapacidade motora do que ao tipo topográfico de PC. Esses dados apontam para a importância de se classificar o paciente segundo sua função motora, mais do que valorizar a classificação topográfica. Os autores enfatizam a necessidade de profissionais que participam do cuidado dessas crianças estarem familiarizados com o SCFMG.
Outra variável que limita a participação nas atividades regulares na escola é a presença do déficit cognitivo. Schenker et al(6) e Menkes e Sarnat(12) encontraram diferenças significativas de alterações cognitivo-comportamentais em crianças com limitações motoras, mostrando que o maior comprometimento motor esteve relacionado ao menor desempenho cognitivo. No presente estudo, não foi possível contar com a avaliação cognitiva para a análise, pois aproximadamente 40% dos indivíduos não eram passíveis de serem submetidos às escalas utilizadas no serviço.
A linguagem é um requisito para a socialização, refletindo em parte a cognição do indivíduo e a consequente participação em atividades usuais para crianças de mesma idade, sendo importante para a inclusão escolar. Alguns estudos longitudinais têm comprovado que o atraso no desenvolvimento da linguagem é um preditor de inteligência inferior à média, sendo o retardo mental diagnosticado na idade escolar(13-15). Relata-se também que o atraso no desenvolvimento da fala relaciona-se à menor habilidade de leitura e a problemas de comportamento(14). Nesta amostra, os pacientes apresentavam graus variáveis de alteração na linguagem, mas aqueles com maiores dificuldades estavam em escola especial, especialmente os pacientes com ausência de fala. Schenker et al(6) encontraram resultados semelhantes, observando que as crianças com dificuldades na linguagem participavam menos das atividades escolares, indicando que as desordens de comunicação têm o potencial de isolar crianças com PC dos outros indivíduos no ambiente escolar.
Em conclusão, observou-se que não apenas as limitações motoras da PC prejudicam a inclusão escolar, mas também a presença de déficits associados, como alterações da fala e epilepsia de difícil controle, que constituem obstáculos importantes para a inclusão escolar de fato. Neste estudo, não se observou resistência por parte dos pais e cuidadores em relação ao acesso aos diferentes tipos de escola. A homogeneidade da população quanto à escolaridade e baixa renda per capita não permitiram a análise desses dados neste estudo.
Simeonsson et al(10) lembra que o nível de participação de crianças com necessidades especiais não depende apenas de fatores pessoais, mas também da adaptação do ambiente escolar para facilitar o acesso às atividades.
Dessa forma, permanece a questão se é possível, no momento atual, aplicar a lei de inclusão a todas as crianças com PC e extinguir as escolas especiais. Será possível que as escolas regulares absorvam crianças com PC níveis IV e V do SCFMG associada a retardo mental moderado a grave e/ou ausência de linguagem? As escolas atuais têm pessoal adequadamente preparado para atender essas crianças, condições ambientais e adaptações para posicionamento e mobilidade necessárias para a inclusão dessa população? É fundamental entender que esse é um tema extremamente complexo e que deve ser considerado com atenção e planejamento, para que professores e escolas possam se adaptar a essa realidade, transformando-se em espaços de integração social e aprendizado de tolerância às diferenças. A possibilidade de atenção especializada associada à socialização em momentos de lazer, características da classe especial, parece ser interessante nesse momento de transição. Sem dúvida, a atitude a ser tomada no momento é a de proteção dessas crianças, que poderão encontrar-se numa situação de completa exclusão social em ambientes não adequados para a sua inclusão. Enquanto isso, espera-se que a política de inclusão possa ser amplamente aplicada a todas as crianças com deficiências, incluindo aquelas com PC grave.

Recomendo

Recomend a leitura deste artigo da revista da Sociedade de Pediatria de São Paulo, o artigo é sobre "impacto do nascimento pré-termo e com baixo peso no neurodesenvolvimento, na cognição e, consequentemente, na aprendizagem de crianças e adolescentes em idade escolar", para os amantes do neurodesenvolvimento.


O que a Fonoaudiologia tem a ver com a Amamentaçao

segunda-feira, 5 de março de 2012

Reservas Funcionais




Diz a lenda que só usamos 10% do cérebro.
Isto não é verdade: usamos o cérebro todo, o tempo todo – de maneiras diferentes.

Considerar que só 10% são usados poderia levar a pensar que os outros 90% servem de reserva em caso de necessidade (por exemplo, após lesões cerebrais) - o que naturalmente não pode ser verdade, já que cada parte do cérebro tem sua função.

Acredita-se, contudo, que existe uma outra forma de reserva funcional no cérebro: na forma de conexões sinápticas ricas entre os vários sistemas e suas partes, que representam caminhos alternativos para o processamento de informação, sobretudo em casos de necessidade.

Como conexões sinápticas são mantidas e modeladas dependendo do seu uso, a consequência é que um cérebro usado bastante, e de maneiras bastante variadas, terá uma maior riqueza de boas conexões disponíveis para uso alternativo.

Esses cérebros, portanto, devem ser mais resistentes aos danos decorrentes do envelhecimento, ou de doenças.

De fato, o maior fator de proteção contra a demência senil e a demência neurodegenerativa é simplesmente a educação formal: quanto mais tempo se passa na escola, menor se torna a probabilidade de um dia ter sinais da doença de Alzheimer, por exemplo.

Um dos ganhos com a educação formal, que pode ser considerada um longo período de aprendizado intenso e sistematizado, é provavelmente a formação de uma extensa rede de conexões, muitas das quais talvez redundantes, que formam uma reserva mental, podendo ser recrutadas alternativamente em caso de necessidade.

Isso explicaria, por exemplo, por que algumas pessoas permanecem em forma e pensando com clareza ao longo de toda sua vida enquanto outras pessoas não.
Essas reservas mentais, contudo, precisam, podem, e devem ser mantidas ao longo da vida, já que as sinapses têm o poder de serem desfeitas, refeitas e fortalecidas o tempo todo de acordo com o uso ou a falta dele.

Por isso, nunca é tarde para investir em formar reservas cerebrais; e se você teve um bom começo na vida, investir na manutenção das suas reservas, e até aumentá-las, é uma boa ideia.
The Bronx Aging Study, publicado no New England Journal of Medicine e liderado pelo Dr. Joe Verghese, um neurologista, acompanhou quase 500 pessoas por mais de20 anos, observando o que elas realmente fazem em seu cotidiano e qual é a relação entre tais escolhas e a saúde do cérebro. A pesquisa mostrou que as pessoas que participavam pelo menos quatro vezes por semana de atividades mentais estimulantes, como jogos interativos e dança, tinham uma probabilidade de 65 a 75% maior de permanecerem em boa forma do que aqueles que não realizavam essas atividades. O Dr. David Bennett, no Rush University Medical Center, chegou recentemente a uma conclusão parecida, depois de seguir mais de 2000 pessoas durante vários anos. Ao longo do tempo do estudo, 134 pessoas do grupo morreram. Nenhuma delas tinha sido diagnosticada com Alzheimer ou teve sequer um leve declínio cognitivo. Mas 36% apresentavam no cérebro os emaranhados de fibras e as placas características de Alzheimer – apenas não tinham sintomas! Essas pessoas aparentemente tinham acumulado reservas cerebrais suficientes para não mostrar sinais clínicos da doença, o que significa que mantinham boas habilidades de pensar apesar do Alzheimer já instalado.

Aprendizado



Seu cérebro não é um computador: além de ficar melhor quanto mais é usado (ao contrário do computador, que vai quebrando aos poucos), ele não tem como adquirir programas prontos para serem usados.

Ao contrário, precisa construí-los aos poucos, a partir dos pedaços mais básicos.

Essa construção de programas é o processo de aprendizado: a modificação efetiva do cérebro conforme o uso que resulta em um desempenho cada vez mais adequado do comportamento desejado, ou seja, um desempenho melhor.

A base do aprendizado é considerada a modificação das sinapses, ou seja, das conexões entre neurônios no cérebro.

Conforme algumas ficam mais fortes e outras mais fracas, a modificação sináptica efetivamente remodela os circuitos entre neurônios e, com isso, o comportamento.

Por exemplo, os neurônios que representam a ideia “Paris” passam a ter sua atividade associada à atividade de outros neurônios, que representam a imagem da torre Eiffel e a ideia “França”, e dissociada da atividade dos que representam, digamos, “Alemanha”.

Essa modificação sináptica com o uso acontece a vida toda, ainda que ocorra mais facilmente (ou seja, com menor necessidade de insistência e repetição) quando somos jovens. E mais: é um processo rápido, que já pode ser observado assim que um novo comportamento é aprendido.

Como é incremental, associando informações, o aprendizado de programas complexos – dirigir, escrever, tocar piano, jogar basquete – precisa acontecer aos poucos, em degraus de complexidade crescente. E mais: como é um processo direcionado pelo uso bem-sucedido, o aprendizado depende de prática e motivação.
Quanto mais se pratica, mais chance o cérebro tem de reforçar as modificações sinápticas que constituem o que está sendo aprendido.

Quanto mais motivação se tem, mais se pratica, mais importância se dá ao aprendizado, e portanto mais facilmente acontecem as modificações sinápticas do aprendizado.

Divisão de tarefas (especialização funcional)



O cérebro pode ser visto como um conjunto de sistemas, ou seja, de estruturas que compartilham uma mesma função.

Um sistema cuida, por exemplo, de processar imagens visuais, colando o que faz sentido como uma pessoa ou um objeto e separando-o do resto, então associando a imagem a uma identidade e um local no espaço; outro cuida de processar sons e associá-los a significados e símbolos visuais (como conjuntos de letras do alfabeto); outro cuida de representar seus objetivos, suas metas, e de traçar estratégias para alcançá-los; outro, ainda, trata de filtrar somente aquelas informações relevantes ao objetivo do momento, dando-lhes mais destaque do que as demais, que são praticamente apagadas em comparação.

Dado que o aprendizado depende de uso, o resultado dessa especialização funcional do cérebro, ou divisão de tarefas, é que só melhoram aqueles sistemas que são efetivamente usados com sucesso.

Se você passa todas as horas do dia lendo, ficará muito bom em atividades que envolvam a linguagem, o processamento semântico, vocabulário e geração de palavras – mas não desenvolverá suas habilidades motoras, musicais, ou de resolução de problemas, por exemplo.

Se sua vida é jogar xadrez, você se tornará muito bom em resolver problemas lógicos que envolvam análise espacial e a visualização mental de várias etapas – como no xadrez.

É claro que as várias funções cognitivas ajudam umas às outras, mas isso tem limites.

Exercitar a memória é ótimo, mas não treina diretamente o raciocínio necessário para resolver problemas.

Ter um enorme vocabulário é muito bom para a leitura, mas não ajuda a melhorar a capacidade de concentração.

Para ter boa atenção, memória, visão espacial e raciocínio, é preciso portanto exercitar sua atenção, memória, visão espacial e raciocínio lógico. Variedade é fundamental.

E como na vida cotidiana usamos misturas de todas essas funções a cada momento, tê-las todas bem azeitadas é ótimo!

O neuromarketing funciona?



O neuromarketing funciona?Os avanços da neurociência nas últimas décadas têm sido muito significativos. Diz-se que aprendemos mais sobre o cérebro na última década do que em todo século anterior. As descobertas sobre o funcionamento do cérebro têm afetado as diversas áreas do conhecimento, gerando especializações como neuropsicologia, neuropedagogia, neuroeconomia e, recentemente, até neuromarketing.
Neuromarketing é a prática que utiliza a neurociência para tentar determinar as reações biológicas inconscientes de uma pessoa a um produto. Empresas especializadas nessas áreas utilizam uma série de técnicas próprias para aumentar o apelo de um produto a uma determinada audiência e, consequentemente, vender mais. Porém, além de gerar questionamentos sobre sua validade científica, essa prática também tem levantado dúvidas éticas.
Apesar de testes voltados para penetrar o subconsciente de pessoas serem usados desde a época de Sigmund Freud, o que fez florescer a pesquisa de neuromarketing foi a possibilidade de se extrair imensas quantidades de dados de uma audiência, agregá-las e processá-las rapidamente pelo computador, e ver surgir padrões que dão uma noção sobre se uma audiência está ou não engajada emocionalmente num dado momento.
Os dados colhidos vão desde a direção do olhar, a dilatação da pupila, o batimento cardíaco, a frequência respiratória, o nível de suor, a postura corporal, até a atividade cerebral. Esta última é obtida através da ressonância magnética funcional e, como diferentes regiões do cérebro estão associadas a diferentes tarefas, é possível analisar como o cérebro de uma pessoa reage ao estímulo de um produto ou uma propaganda.
Utilizando de força bruta computacional, os cientistas conseguem encontrar padrões de atividade cerebral e corporal que prevêm um certo comportamento sem necessariamente entender o que esses padrões significam. Algo análogo ao que é feito no estudo do genoma humano.
O termo neuromarketing foi utilizado pela primeira vez em 2002, então é de se imaginar que sua base científica ainda é pequena. Num estudo realizado em 2010 nos EUA sobre o assunto, os pesquisadores investigaram os websites de 16 empresas de neuromarketing e, com base no que estava disponível, concluíram que não havia evidência científica suficiente para determinar se a prática de neuromarketing funcionava ou era efetiva.
Os pesquisadores descobriram que a forma com que o neuromarketing é praticado atualmente é muito heterogênea, com várias empresas privadas empregando técnicas diferentes e desenvolvendo pesquisas próprias. E também que a falta de incentivos para a publicação de suas pesquisas tem contribuído para a falta de evidências científicas.
Em resposta aos apelos de anunciantes americanos, a Advertising Research Foundation (Fundação de Pesquisa da Propaganda) dos EUA lançou uma iniciativa com o objetivo de avaliar os serviços de neuromarketing e desenvolver diretrizes. Revisores acadêmicos independentes, incluindo neurocientistas, analisaram oito empresas de neuromarketing e seus métodos.
O documento final desse trabalho de nove meses concluiu que o potencial de se acessar o inconsciente de uma pessoa é real, mas que a complexidade da ciência por trás desses métodos torna difícil verificar sua validade. Mesmo assim, uma próxima iniciativa já está programada para esse ano.
Além da eficácia dessas técnicas, outra questão muito importante para a comunidade científica é a ética. Em 2008, uma equipe de cientistas pesquisou o assunto e recomendou que, antes dos neuromarketeiros avançarem no mercado, eles deveriam adotar um código de ética para garantir o uso benéfico e não prejudicial dessa tecnologia, que consistiria de 5 pontos:
•    Proteção de sujeitos pesquisados.
•    Proteção de populações vulneráveis à exploração mercadológica.
•    Divulgação total das metas, riscos e benefícios.
•    Representação precisa de mídia e mercado.
•    Validade científica interna e externa de produtos promovidos pela técnica.
Enquanto essa indústria amadurece e cria regulamentos que fortaleçam a ciência por trás do neuromarketing, bem como sua validação e transparência, a recomendação é de se utilizar as velhas e novas práticas de pesquisa mercadológica conjuntamente, de maneira complementar.

Treinar a memória pode aumentar a inteligência



Treinar a memória pode aumentar a inteligênciaA memória de trabalho é o tipo de memória que permite ao cérebro manter ativas as representações de informações que acabaram de sair de sua frente, como um número de telefone ou a forma do objeto que você procura. Graças a ela, você tem continuidade ao lidar com o mundo e resolver problemas, sem esquecer o que estava fazendo segundos atrás.
Cientistas cognitivos consideram a memória de trabalho um componente chave da inteligência e há evidências de que o exercício da memória de trabalho melhora outras habilidades cognitivas, como o raciocínio e a resolução de problemas. Num estudo publicado no ano passado, concluiu-se que jogos para o cérebro podem melhorar o raciocínio abstrato em crianças e ainda ter efeito meses após o treinamento, mas também descobriram algumas limitações.
O estudo colocou 32 crianças do ensino fundamental durante um mês num programa rigoroso de jogos computadorizados desenvolvidos para testar, desafiar e fortalecer a memória de trabalho. Outras 30 crianças treinaram num outro programa computadorizado que envolvia responder perguntas de conhecimento geral e vocabulário.
Os jogos de memória de trabalho necessitavam que as crianças acompanhassem e lembrassem uma sequência de posições numa matriz e, logo em seguida, respondessem perguntas sobre ela. Quando uma criança ia bem num jogo, a próxima sequência ficava mais longa, desafiando ainda mais a habilidade da criança de guardar em sua memória a sequência e informações espaciais.
O programa necessitava da atenção total da criança por até um minuto e enfatizava a habilidade de filtrar as distrações para focar numa única tarefa. A criança precisava lembrar onde e em qual ordem os itens apareciam na tela, depois fazer o caminho inverso para responder as informações corretamente. Se a criança perdesse algum detalhe, não conseguiria concluir o exercício.
Ao final do mês de treinamento as crianças passaram por um teste de raciocínio abstrato, também conhecido como inteligência fluida. Os pesquisadores inicialmente encontraram pouca diferença no teste de inteligência entre o grupo do treinamento da memória de trabalho e o de conhecimentos gerais. Apesar de várias crianças que treinaram a memória terem desempenhado melhor neste teste, seu grupo não havia se tornado mais inteligente que o outro grupo.
Foi então que os pesquisadores se aprofundaram nos dados e notaram um padrão muito claro. As crianças que mais aumentaram de desempenho no treinamento de memória de trabalho também foram aquelas que tiveram o melhor desempenho no teste de inteligência fluida. E mesmo três meses depois, elas ainda estavam melhores. Ou seja, a melhora de desempenho em memória de trabalho indicava claramente um aumento de inteligência.
Os pesquisadores concluíram que o treinamento cognitivo pode funcionar e ter efeito de longo prazo, mas que existem fatores limitantes que devem ser considerados para avaliar os efeitos do treinamento, um dos quais é a diferença individual de desempenho. A certeza é tanta que eles propõem que pesquisas futuras investiguem não mais se esse tipo de treinamento funciona, e sim quais regimes e condições de treinamento resultam nos melhores efeitos de transferência.
É por isso que o programa de treinamento do Cérebro Melhor oferece uma variedade de exercícios cerebrais na forma de jogos divertidos com diversos níveis de dificuldade, incluindo vários jogos para memória de trabalho. Você pode elevar o nível de desafio à medida que melhora sua habilidade, de forma a manter-se desafiado no limite da sua zona de conforto. E, se quiser, pode contar com a ajuda do instrutor virtual personalizado para montar seu treino e controlar o nível de dificuldade por você. Experimente!