terça-feira, 14 de fevereiro de 2012


Sobre música, cérebro e o efeito Mozart

Sobre música, cérebro e o efeito MozartNinguém pode negar que a música tem um efeito sobre nosso estado de espírito, podendo nos deixar felizes, tristes, estimulados ou relaxados. A música também é utilizada com muito sucesso em terapias de reabilitação cerebral, como já discutido no artigo “Música faz bem para o cérebro”. Mas a ela também tem sido atribuído algumas habilidades controversas, como a de aumentar a inteligência, popularmente conhecida como efeito Mozart.
Para o cérebro, há uma grande diferença entre tocar e apenas ouvir música. Tanto que há estudos recentes verificando que o aprendizado musical tem um impacto no envelhecimento, retardando a perda de memória e a dificuldade de compreender a fala em ambientes barulhentos, reclamação comum entre os idosos.
Em 1993, uma pesquisa publicada na revista Nature ficou famosa por verificar que participantes expostos a uma música tiveram resultados significantemente superiores, porém transitórios, em testes padronizados de raciocínio abstrato/espacial do que participantes que foram instruídos a relaxar ou apenas ficar em silêncio. A música em questão era o primeiro movimento “alegro com spirito” da Sonata KV448 para dois pianos em D maior, de Mozart e, por isso, ficou conhecido como o efeito Mozart.
Apesar dos participantes serem todos estudantes universitários e dos testes não serem completos para uma avaliação geral da inteligência, muita gente interpretou o resultado como “toque Mozart para seu bebê e ele vai crescer inteligente”.
Muitos estudos semelhantes foram desenvolvidos, alguns comprovando os efeitos e outros os refutando. Quando há estudos suficientes sobre um assunto é possível combiná-los para avaliar o efeito global, uma técnica chamada de meta-análise. Então, em 2010, foi publicada a mais completa meta-análise sobre esse efeito, analisando praticamente 40 estudos publicados e não publicados, totalizando mais de 3.000 pessoas.
As conclusões a que esses cientistas chegaram foram que:
•    Há um pequeno efeito sobre o desempenho em tarefas de raciocínio espacial nas pessoas expostas à sonata KV 448 de Mozart, mas também a qualquer outro estímulo musical, quando comparadas às que não receberam estímulos musicais.
•    O efeito sobre as pessoas expostas a Mozart quando comparado a qualquer outra música é negligenciável.
Portanto, o efeito sobre a inteligência de se ouvir Mozart ou qualquer outra música é, na melhor hipótese, fraco.
Entretanto, pesquisas têm demonstrado que aprender a fazer música é muito mais importante para se obter efeitos positivos no longo prazo do que apenas ouvir música. O aprendizado musical efetivamente muda o cérebro, podendo aumentar a concentração, a memória de trabalho, coordenação motora fina, além de outras habilidades que podem ser transferidas para o cotidiano. E ainda é muito benéfico para amenizar alguns efeitos do envelhecimento.
O caminho que o estímulo auditivo percorre no cérebro para ser interpretado corretamente depende do sincronismo preciso entre os neurônios, muito importante para capturar as rápidas transições acústicas, como as que caracterizam a fala. Mas a precisão neuronal e o processamento temporal auditivo diminuem com a idade, contribuindo para os problemas de compreensão da fala, que muitos idosos relatam.
Pesquisadores analisaram essa capacidade de percepção auditiva em grupos de pessoas mais jovens (18 a 32 anos) e mais velhas (45 a 65 anos), tanto os que eram músicos e não músicos, e verificaram que os músicos mais velhos tiveram um desempenho muito melhor que seus pares não músicos, e semelhante ao de jovens não músicos.
O resultado sugere que o cérebro pode ser treinado a superar, em parte, algumas perdas auditivas relacionadas com a idade e que o treinamento musical pode melhorar a habilidade de se comunicar em ambientes acusticamente barulhentos e complexos. Em estudos anteriores, esse mesmo grupo de pesquisadores verificou que o aprendizado musical também afeta positivamente a memória.
O ponto é que não há atalhos para a inteligência. Benefícios de longo prazo requerem treinamento de longo prazo, seja através da educação formal, do aprendizado musical, ou mesmo do treinamento cerebral. Uma metodologia pode ajudar a se obter resultados de maneira mais rápida, como fazendo um treinamento cerebral com o Cérebro Melhor, mas ainda assim requer esforço consciente e dedicado.
 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012


Estímulo em zona específica do cérebro pode melhorar memória

Usando um vídeo-game, pesquisadores testaram se a estimulação alterava a capacidade de armazenamento

Área estimulada foi o córtex entorrinal (marcada em verde) região chave do cérebro para a memória e principal passagem antes do hipocampo, responsável pelo processamento dos sinais e o desenvolvimento da memóriaFoto: Illustration/AFP PhotoÁrea estimulada foi o córtex entorrinal (marcada em verde) região chave do cérebro para a memória e principal passagem antes do hipocampo, responsável pelo processamento dos sinais e o desenvolvimento da memória
Estudo da Universidade da Califórnia, Los Angeles, indica que é possível aumentar a memória através da estimulação de uma determinada zona do cérebro. Os pesquisadores se concentraram no córtex entorrinal, uma região chave do cérebro para a memória e principal passagem antes do hipocampo, a área responsável pelo processamento dos sinais e o desenvolvimento da memória.

"O córtex entorrinal é a porta de acesso à unidade central da memória", disse Itzhak Fried, professor de neurocirurgia da Escola de Medicina David Geffen da Universidade da Califórnia, principal autor da pesquisa. "Toda a experiência visual ou sensorial que guardamos na memória passa por esta porta para chegar ao hipocampo. Nossos neurônios devem enviar mensagens através desta passagem para que a memória se forme e a lembrança possa ser recuperada conscientemente", continuou.

Para esta pesquisa, os neurologistas seguiram sete pacientes com epilepsia que tinham eletrodos implantados em seu cérebro para entender a origem de suas convulsões. Os especialistas utilizaram os mesmos eletrodos para registrar a atividade dos neurônios quando as lembranças se formavam.

Usando um vídeo-game que simula um táxi em uma cidade virtual, eles testaram se a estimulação das profundezas do cérebro do córtex entorrinal ou do hipocampo alteravam a capacidade de armazenamento. Os participantes se passavam por taxistas que recebiam passageiros e viajavam por toda a cidade.

"Quando estimulávamos as fibras nervosas no córtex entorrinal dos pacientes durante a aprendizagem, eles reconheciam mais tarde lugares e circulavam pelas ruas com maior rapidez", afirmou Fried. "Inclusive aprendiam a pegar atalhos, o que reflete uma melhor memória espacial", explicou.

Fried reconheceu que "a perda de nossa capacidade de lembrar fatos recentes e formar novas lembranças é uma das doenças mais temidas da condição humana", mas advertiu que os resultados do estudo, embora encorajadores, devem ser encarados com cautela.

"Nossos resultados preliminares fornecem evidências de um possível mecanismo para aumentar a memória, sobretudo nas pessoas idosas ou que sofrem de demência precoce", completou