segunda-feira, 5 de março de 2012

Reservas Funcionais




Diz a lenda que só usamos 10% do cérebro.
Isto não é verdade: usamos o cérebro todo, o tempo todo – de maneiras diferentes.

Considerar que só 10% são usados poderia levar a pensar que os outros 90% servem de reserva em caso de necessidade (por exemplo, após lesões cerebrais) - o que naturalmente não pode ser verdade, já que cada parte do cérebro tem sua função.

Acredita-se, contudo, que existe uma outra forma de reserva funcional no cérebro: na forma de conexões sinápticas ricas entre os vários sistemas e suas partes, que representam caminhos alternativos para o processamento de informação, sobretudo em casos de necessidade.

Como conexões sinápticas são mantidas e modeladas dependendo do seu uso, a consequência é que um cérebro usado bastante, e de maneiras bastante variadas, terá uma maior riqueza de boas conexões disponíveis para uso alternativo.

Esses cérebros, portanto, devem ser mais resistentes aos danos decorrentes do envelhecimento, ou de doenças.

De fato, o maior fator de proteção contra a demência senil e a demência neurodegenerativa é simplesmente a educação formal: quanto mais tempo se passa na escola, menor se torna a probabilidade de um dia ter sinais da doença de Alzheimer, por exemplo.

Um dos ganhos com a educação formal, que pode ser considerada um longo período de aprendizado intenso e sistematizado, é provavelmente a formação de uma extensa rede de conexões, muitas das quais talvez redundantes, que formam uma reserva mental, podendo ser recrutadas alternativamente em caso de necessidade.

Isso explicaria, por exemplo, por que algumas pessoas permanecem em forma e pensando com clareza ao longo de toda sua vida enquanto outras pessoas não.
Essas reservas mentais, contudo, precisam, podem, e devem ser mantidas ao longo da vida, já que as sinapses têm o poder de serem desfeitas, refeitas e fortalecidas o tempo todo de acordo com o uso ou a falta dele.

Por isso, nunca é tarde para investir em formar reservas cerebrais; e se você teve um bom começo na vida, investir na manutenção das suas reservas, e até aumentá-las, é uma boa ideia.
The Bronx Aging Study, publicado no New England Journal of Medicine e liderado pelo Dr. Joe Verghese, um neurologista, acompanhou quase 500 pessoas por mais de20 anos, observando o que elas realmente fazem em seu cotidiano e qual é a relação entre tais escolhas e a saúde do cérebro. A pesquisa mostrou que as pessoas que participavam pelo menos quatro vezes por semana de atividades mentais estimulantes, como jogos interativos e dança, tinham uma probabilidade de 65 a 75% maior de permanecerem em boa forma do que aqueles que não realizavam essas atividades. O Dr. David Bennett, no Rush University Medical Center, chegou recentemente a uma conclusão parecida, depois de seguir mais de 2000 pessoas durante vários anos. Ao longo do tempo do estudo, 134 pessoas do grupo morreram. Nenhuma delas tinha sido diagnosticada com Alzheimer ou teve sequer um leve declínio cognitivo. Mas 36% apresentavam no cérebro os emaranhados de fibras e as placas características de Alzheimer – apenas não tinham sintomas! Essas pessoas aparentemente tinham acumulado reservas cerebrais suficientes para não mostrar sinais clínicos da doença, o que significa que mantinham boas habilidades de pensar apesar do Alzheimer já instalado.

Aprendizado



Seu cérebro não é um computador: além de ficar melhor quanto mais é usado (ao contrário do computador, que vai quebrando aos poucos), ele não tem como adquirir programas prontos para serem usados.

Ao contrário, precisa construí-los aos poucos, a partir dos pedaços mais básicos.

Essa construção de programas é o processo de aprendizado: a modificação efetiva do cérebro conforme o uso que resulta em um desempenho cada vez mais adequado do comportamento desejado, ou seja, um desempenho melhor.

A base do aprendizado é considerada a modificação das sinapses, ou seja, das conexões entre neurônios no cérebro.

Conforme algumas ficam mais fortes e outras mais fracas, a modificação sináptica efetivamente remodela os circuitos entre neurônios e, com isso, o comportamento.

Por exemplo, os neurônios que representam a ideia “Paris” passam a ter sua atividade associada à atividade de outros neurônios, que representam a imagem da torre Eiffel e a ideia “França”, e dissociada da atividade dos que representam, digamos, “Alemanha”.

Essa modificação sináptica com o uso acontece a vida toda, ainda que ocorra mais facilmente (ou seja, com menor necessidade de insistência e repetição) quando somos jovens. E mais: é um processo rápido, que já pode ser observado assim que um novo comportamento é aprendido.

Como é incremental, associando informações, o aprendizado de programas complexos – dirigir, escrever, tocar piano, jogar basquete – precisa acontecer aos poucos, em degraus de complexidade crescente. E mais: como é um processo direcionado pelo uso bem-sucedido, o aprendizado depende de prática e motivação.
Quanto mais se pratica, mais chance o cérebro tem de reforçar as modificações sinápticas que constituem o que está sendo aprendido.

Quanto mais motivação se tem, mais se pratica, mais importância se dá ao aprendizado, e portanto mais facilmente acontecem as modificações sinápticas do aprendizado.

Divisão de tarefas (especialização funcional)



O cérebro pode ser visto como um conjunto de sistemas, ou seja, de estruturas que compartilham uma mesma função.

Um sistema cuida, por exemplo, de processar imagens visuais, colando o que faz sentido como uma pessoa ou um objeto e separando-o do resto, então associando a imagem a uma identidade e um local no espaço; outro cuida de processar sons e associá-los a significados e símbolos visuais (como conjuntos de letras do alfabeto); outro cuida de representar seus objetivos, suas metas, e de traçar estratégias para alcançá-los; outro, ainda, trata de filtrar somente aquelas informações relevantes ao objetivo do momento, dando-lhes mais destaque do que as demais, que são praticamente apagadas em comparação.

Dado que o aprendizado depende de uso, o resultado dessa especialização funcional do cérebro, ou divisão de tarefas, é que só melhoram aqueles sistemas que são efetivamente usados com sucesso.

Se você passa todas as horas do dia lendo, ficará muito bom em atividades que envolvam a linguagem, o processamento semântico, vocabulário e geração de palavras – mas não desenvolverá suas habilidades motoras, musicais, ou de resolução de problemas, por exemplo.

Se sua vida é jogar xadrez, você se tornará muito bom em resolver problemas lógicos que envolvam análise espacial e a visualização mental de várias etapas – como no xadrez.

É claro que as várias funções cognitivas ajudam umas às outras, mas isso tem limites.

Exercitar a memória é ótimo, mas não treina diretamente o raciocínio necessário para resolver problemas.

Ter um enorme vocabulário é muito bom para a leitura, mas não ajuda a melhorar a capacidade de concentração.

Para ter boa atenção, memória, visão espacial e raciocínio, é preciso portanto exercitar sua atenção, memória, visão espacial e raciocínio lógico. Variedade é fundamental.

E como na vida cotidiana usamos misturas de todas essas funções a cada momento, tê-las todas bem azeitadas é ótimo!

O neuromarketing funciona?



O neuromarketing funciona?Os avanços da neurociência nas últimas décadas têm sido muito significativos. Diz-se que aprendemos mais sobre o cérebro na última década do que em todo século anterior. As descobertas sobre o funcionamento do cérebro têm afetado as diversas áreas do conhecimento, gerando especializações como neuropsicologia, neuropedagogia, neuroeconomia e, recentemente, até neuromarketing.
Neuromarketing é a prática que utiliza a neurociência para tentar determinar as reações biológicas inconscientes de uma pessoa a um produto. Empresas especializadas nessas áreas utilizam uma série de técnicas próprias para aumentar o apelo de um produto a uma determinada audiência e, consequentemente, vender mais. Porém, além de gerar questionamentos sobre sua validade científica, essa prática também tem levantado dúvidas éticas.
Apesar de testes voltados para penetrar o subconsciente de pessoas serem usados desde a época de Sigmund Freud, o que fez florescer a pesquisa de neuromarketing foi a possibilidade de se extrair imensas quantidades de dados de uma audiência, agregá-las e processá-las rapidamente pelo computador, e ver surgir padrões que dão uma noção sobre se uma audiência está ou não engajada emocionalmente num dado momento.
Os dados colhidos vão desde a direção do olhar, a dilatação da pupila, o batimento cardíaco, a frequência respiratória, o nível de suor, a postura corporal, até a atividade cerebral. Esta última é obtida através da ressonância magnética funcional e, como diferentes regiões do cérebro estão associadas a diferentes tarefas, é possível analisar como o cérebro de uma pessoa reage ao estímulo de um produto ou uma propaganda.
Utilizando de força bruta computacional, os cientistas conseguem encontrar padrões de atividade cerebral e corporal que prevêm um certo comportamento sem necessariamente entender o que esses padrões significam. Algo análogo ao que é feito no estudo do genoma humano.
O termo neuromarketing foi utilizado pela primeira vez em 2002, então é de se imaginar que sua base científica ainda é pequena. Num estudo realizado em 2010 nos EUA sobre o assunto, os pesquisadores investigaram os websites de 16 empresas de neuromarketing e, com base no que estava disponível, concluíram que não havia evidência científica suficiente para determinar se a prática de neuromarketing funcionava ou era efetiva.
Os pesquisadores descobriram que a forma com que o neuromarketing é praticado atualmente é muito heterogênea, com várias empresas privadas empregando técnicas diferentes e desenvolvendo pesquisas próprias. E também que a falta de incentivos para a publicação de suas pesquisas tem contribuído para a falta de evidências científicas.
Em resposta aos apelos de anunciantes americanos, a Advertising Research Foundation (Fundação de Pesquisa da Propaganda) dos EUA lançou uma iniciativa com o objetivo de avaliar os serviços de neuromarketing e desenvolver diretrizes. Revisores acadêmicos independentes, incluindo neurocientistas, analisaram oito empresas de neuromarketing e seus métodos.
O documento final desse trabalho de nove meses concluiu que o potencial de se acessar o inconsciente de uma pessoa é real, mas que a complexidade da ciência por trás desses métodos torna difícil verificar sua validade. Mesmo assim, uma próxima iniciativa já está programada para esse ano.
Além da eficácia dessas técnicas, outra questão muito importante para a comunidade científica é a ética. Em 2008, uma equipe de cientistas pesquisou o assunto e recomendou que, antes dos neuromarketeiros avançarem no mercado, eles deveriam adotar um código de ética para garantir o uso benéfico e não prejudicial dessa tecnologia, que consistiria de 5 pontos:
•    Proteção de sujeitos pesquisados.
•    Proteção de populações vulneráveis à exploração mercadológica.
•    Divulgação total das metas, riscos e benefícios.
•    Representação precisa de mídia e mercado.
•    Validade científica interna e externa de produtos promovidos pela técnica.
Enquanto essa indústria amadurece e cria regulamentos que fortaleçam a ciência por trás do neuromarketing, bem como sua validação e transparência, a recomendação é de se utilizar as velhas e novas práticas de pesquisa mercadológica conjuntamente, de maneira complementar.

Treinar a memória pode aumentar a inteligência



Treinar a memória pode aumentar a inteligênciaA memória de trabalho é o tipo de memória que permite ao cérebro manter ativas as representações de informações que acabaram de sair de sua frente, como um número de telefone ou a forma do objeto que você procura. Graças a ela, você tem continuidade ao lidar com o mundo e resolver problemas, sem esquecer o que estava fazendo segundos atrás.
Cientistas cognitivos consideram a memória de trabalho um componente chave da inteligência e há evidências de que o exercício da memória de trabalho melhora outras habilidades cognitivas, como o raciocínio e a resolução de problemas. Num estudo publicado no ano passado, concluiu-se que jogos para o cérebro podem melhorar o raciocínio abstrato em crianças e ainda ter efeito meses após o treinamento, mas também descobriram algumas limitações.
O estudo colocou 32 crianças do ensino fundamental durante um mês num programa rigoroso de jogos computadorizados desenvolvidos para testar, desafiar e fortalecer a memória de trabalho. Outras 30 crianças treinaram num outro programa computadorizado que envolvia responder perguntas de conhecimento geral e vocabulário.
Os jogos de memória de trabalho necessitavam que as crianças acompanhassem e lembrassem uma sequência de posições numa matriz e, logo em seguida, respondessem perguntas sobre ela. Quando uma criança ia bem num jogo, a próxima sequência ficava mais longa, desafiando ainda mais a habilidade da criança de guardar em sua memória a sequência e informações espaciais.
O programa necessitava da atenção total da criança por até um minuto e enfatizava a habilidade de filtrar as distrações para focar numa única tarefa. A criança precisava lembrar onde e em qual ordem os itens apareciam na tela, depois fazer o caminho inverso para responder as informações corretamente. Se a criança perdesse algum detalhe, não conseguiria concluir o exercício.
Ao final do mês de treinamento as crianças passaram por um teste de raciocínio abstrato, também conhecido como inteligência fluida. Os pesquisadores inicialmente encontraram pouca diferença no teste de inteligência entre o grupo do treinamento da memória de trabalho e o de conhecimentos gerais. Apesar de várias crianças que treinaram a memória terem desempenhado melhor neste teste, seu grupo não havia se tornado mais inteligente que o outro grupo.
Foi então que os pesquisadores se aprofundaram nos dados e notaram um padrão muito claro. As crianças que mais aumentaram de desempenho no treinamento de memória de trabalho também foram aquelas que tiveram o melhor desempenho no teste de inteligência fluida. E mesmo três meses depois, elas ainda estavam melhores. Ou seja, a melhora de desempenho em memória de trabalho indicava claramente um aumento de inteligência.
Os pesquisadores concluíram que o treinamento cognitivo pode funcionar e ter efeito de longo prazo, mas que existem fatores limitantes que devem ser considerados para avaliar os efeitos do treinamento, um dos quais é a diferença individual de desempenho. A certeza é tanta que eles propõem que pesquisas futuras investiguem não mais se esse tipo de treinamento funciona, e sim quais regimes e condições de treinamento resultam nos melhores efeitos de transferência.
É por isso que o programa de treinamento do Cérebro Melhor oferece uma variedade de exercícios cerebrais na forma de jogos divertidos com diversos níveis de dificuldade, incluindo vários jogos para memória de trabalho. Você pode elevar o nível de desafio à medida que melhora sua habilidade, de forma a manter-se desafiado no limite da sua zona de conforto. E, se quiser, pode contar com a ajuda do instrutor virtual personalizado para montar seu treino e controlar o nível de dificuldade por você. Experimente!