segunda-feira, 1 de agosto de 2011


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O uso de computadores, celulares, tablets e laptops têm transformado o dia a dia das crianças. As mudanças são visíveis nas brincadeiras e também na hora do aprendizado dos pequenos. Tanto que nos Estados Unidos, a tradicional forma de escrever com a letra cursiva (de mão) foi considerada ultrapassada e o ensino deve ser abandonado em mais de 40 estados norte-americanos.

O primeiro deles a suspender por lei o ensino da letra cursiva nas escolas foi o estado de Indiana. Os defensores do novo código argumentam que, atualmente, as crianças não necessitam e quase não se utilizam de caneta e papel para escrever e por isso a alfabetização deve se focar no ensino da letra bastão e nos métodos de digitação. A medida causou polêmica nos EUA. Será que o hábito pode ser incorporado por aqui também?

Para a psicopedagoga Anete Hecht, diretora pedagógica do Colégio I.L.Peretz, em São Paulo, não há motivos que justifiquem a retirada do ensino da letra cursiva nas escolas brasileiras. “Os métodos devem ser somados e não reduzidos. A alfabetização acontece no primeiro momento com a letra bastão, depois a criança passa para a letra cursiva. Isso é importante porque na letra de mão, a criança desenvolve traços da sua identidade e personalidade”, afirma. A psicopedagoga se preocupa também com o desenvolvimento da coordenação motora fina das crianças, que poderia ser prejudicada pelo abandono da letra de mão.

Mas segundo Saad Ellovitch, neuropediatra do Hospital Samaritano de São Paulo, o desenvolvimento da coordenação motora fina não está estritamente relacionado à escrita cursiva, mas também ao uso das mãos em movimentos sutis. “O cérebro se adapta às necessidades do corpo. Você pode desenvolver a motricidade fina, ou seja, a capacidade de execução de movimentos pequenos e delicados, com outras atividades, como por exemplo, o desenho”, afirma a especialista. O corpo é capaz de se adaptar assim às novas condições impostas pelo desenvolvimento humano.

Hoje, a substituição da escrita cursiva pela digital se apresenta como um processo natural - e não necessariamente um problema. “A escrita digital predomina na maioria dos trabalhos da esfera profissional. Por isso, o investimento no ensino da letra cursiva para essa função está cada vez mais em desuso", explica Maria Jose Nóbrega, filóloga e assessora da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. A portabilidade dos equipamentos é outro fator que desestimula a escrita de mão. No entanto, como os impactos das novas tecnologias sobre a educação e o aprendizado ainda são pouco conhecidos, a especialista reforça que os novos e os antigos métodos tendem a ser usados de forma conjunta.“Ainda não podemos excluir o ensino da letra cursiva, porque no Brasil nós não temos a universalização do acesso ao computador", diz.

Outra razão seria porque a escrita manual desempenha algumas funções que ainda não foram substituídas pela digital. Uma letra bonita, em um caderno arrumado, é claro, também ensina conceitos de organização.

A insustentável leveza da memória

A insustentável leveza da memóriaVocê confia na sua memória? Tente se lembrar de algum acontecimento traumático na sua vida. Você consegue se lembrar onde estava? Quem estava com você? E como você se sentiu durante o evento? Você provavelmente esteja muito confiante dessas memórias, mas nossas lembranças não são tão precisas quanto nós imaginamos.

Especialistas explicam que a memória muitas vezes não é armazenada de maneira completa ou pode até ser armazenada de maneira equivocada. Além disso, é possível modificar uma memória durante o processo em que ela é recordada e isso até pode ser usado em terapias. Existem até drogas com o poder de apagar totalmente a memória de longo prazo de uma pessoa ou de fortalecê-la.

Elizabeth Phelps, da Universidade de New York nos EUA, explica que memórias de eventos traumáticos são armazenadas principalmente numa região do cérebro chamada de amídala, um centro de processamento de emoções do cérebro particularmente envolvido com o medo. A amídala foca tão pesadamente nas emoções que ela acaba não armazenando adequadamente os detalhes do evento. Estudos de imagem cerebral com voluntários americanos têm demonstrado que, quando eles pensam sobre o ataque às Torres Gêmeas no fatídico 11 de setembro, há uma grande ativação da amídala, enquanto a ativação do parahipocampo, região do cérebro importante para resgatar detalhes, é baixa.

O problema é que essas lembranças falhas podem ter graves consequências, pois às vezes combinamos os detalhes de nossas experiências incorretamente. Um exemplo disso foi o de Donald Thompson, um psicólogo e especialista em memória, que foi acusado de um estupro brutal. Mas por sorte de Thompson, ele tinha um álibi inquestionável. Ele estava dando uma entrevista ao vivo na televisão sobre memórias não confiáveis no momento do crime. A mulher estava assistindo à entrevista quando foi estuprada e acabou confundindo o rosto de Thompson com o do estuprador. De acordo com Daniel Schachter, professor de psicologia em Harvard, esse tipo de memória confiável mal atribuída é uma das causas mais frequentes de acusações erradas.

Nossas memórias mudam toda vez que pensamos sobre um evento do passado. Quando nossos cérebros armazenam memórias, elas passam por um processo de consolidação e, enquanto o processo não é concluído, as memórias permanecem frágeis. Toda vez que recordamos algo, criamos oportunidades de mudar ou atualizar o que resgatamos. Este processo nos permite deixar nossas memórias mais precisas na medida em que adicionamos novas informações a elas, explica o professor da Universidade do Arizona Lynn Nadel.

A reativação da memória pode fortalecer, mudar ou atualizar nossas lembranças, e pode ser usada no tratamento de pessoas que sofrem de distúrbio de estresse pós-traumático. Quando resgatamos memórias e não fazemos nada para diminuir seu impacto, o medo se torna maior, mas quando novas informações são adicionadas à memória, o medo pode diminuir.

Terapias químicas também podem algum dia diminuir o impacto emocional negativo das memórias. Em 2006, o pesquisador Todd Sacktor, descobriu uma proteína responsável pelo processo de armazenar memórias de longo prazo. Pesquisas indicaram que aplicando mais dessa proteína fez com que memórias de longo prazo fossem fortalecidas.

Pesquisadores desenvolveram uma droga, chamada de ZIP, que inibe essa proteína e, em testes feitos com ratos, permitiu com que eles apagassem as memórias de longo prazo desses ratos. Tratamentos usando essa droga, o ZIP, seriam antiéticos em humanos, pois os pesquisadores não conseguem atacar uma memória específica e, consequentemente, apagariam todas as memórias de longo prazo de uma pessoa.

Mesmo sabendo que não podemos confiar cegamente em nossa memória, é importante lembrarmos que nossa habilidade de memorizar pode ser melhorada com a prática e o treino frequente com jogos de memória é uma ótima maneira de exercitarmos essa habilidade tão importante para nossas vidas.

Dormindo com um olho aberto e outras curiosidades do sono


Dormindo com um olho aberto e outras curiosidades do sono



O que acontece com nosso cérebro quando dormimos? Já abordamos em artigos anterioresque o sono é crítico para a nossa capacidade de aprendizagem, consolidando o que memorizamos ao longo do dia e preparando o cérebro para absorver novas informações. Por isso, um sono adequado faz parte de um estilo de vida saudável para o cérebro. Mas agora vamos abordar algumas curiosidades sobre o sono.

Você já ouviu a expressão “dormir com um olho aberto”? Pois é, cientistas descobriram que alguns pássaros possuem essa habilidade para se proteger do ataque de predadores. E, falando de ataque, saiba que para certas pessoas o sono pode ser perigoso, existindo até casos onde pessoas cometem assassinato enquanto dormem. Mas a cura pode não estar longe, pois já existem tratamentos eficazes e, recentemente, os cientistas que estudam esses tipos de distúrbios do sono até fizeram uma descoberta fascinante relacionando esses distúrbios com a doença de Parkinson.

Um grupo de pesquisa do Instituto Max Planck de Ornitologia provou que algumas aves conseguem dormir com um olho aberto. Uma das experiências realizadas foi com patos, onde foram colocados numa fila, lado a lado, e verificou-se que os patos que estavam nas pontas mantinham um dos olhos, justamente o que estava virado para o lado oposto ao grupo, aberto enquanto dormiam. Essa é uma forma que a natureza encontrou para essas aves se protegerem dos seus predadores.

As pesquisas desse grupo identificaram que, assim como os mamíferos, as aves possuem basicamente dois tipos de sono: o sono de ondas lentas e o sono REM (acrônimo de movimento rápido dos olhos). No caso das aves, enquanto o sono de ondas lentas pode ocorrer alternadamente em cada um dos hemisférios cerebrais, o sono REM sempre ocorre simultaneamente nos dois hemisférios. Assim, no primeiro caso, enquanto um dos hemisférios dorme, o olho ligado ao hemisfério acordado permanece aberto num estado meio acordado.

Apesar dos humanos obviamente não possuírem essa habilidade, o Dr. Rattenborg, líder desse grupo de pesquisas, comenta que partes do cérebro humano podem dormir mais profundamente. Por exemplo, se um braço passar por um treinamento físico mais rigoroso, a área do cérebro ligada a esse membro terá um sono mais profundo.

Continuando no assunto do sono, todo mundo já ouviu falar de sonambulismo, um tipo comum de distúrbio do sono, ou parasonia, que também inclui a agressão noturna e o terror noturno. Um caso emblemático foi o de Ken Parks, do Canadá, que em 1987 saiu da sua cama, dirigiu 23 km até a casa de seus padrastos, onde matou sua madrasta e feriu seu padrasto. Ele foi julgado e absolvido sob a defesa de sonambulismo.

Parasonias desta natureza ocorrem porque o processo de atonia REM, a paralisia generalizada dos músculos esqueléticos que ocorre com todas as pessoas enquanto dormem, deixa de funcionar, fazendo com que elas encenem seus sonhos. Esse processo é necessário para que o corpo não se mexa durante os sonhos, de forma a evitar ferimentos, e ele ocorre não apenas nos seres humanos, mas também em todos os mamíferos.

De acordo com o Dr. Carlos Schenck, muitas pessoas diagnosticadas com parasonia conseguem ser tratadas de forma bem sucedida com medicamentos. Porém uma descoberta interessante dele e de sua equipe foi a relação destes tipos de distúrbios com a doença de Parkinson. Segundo seu estudo, 81% dos casos de distúrbio do sono REM evoluem para doença de Parkinson, criando uma oportunidade interessante de intervenção precoce para a doença de Parkinson e ampliando as possibilidades de pesquisa.

Mais da metade dos casos de Alzheimer podem ser prevenidos, segundo pesquisadores
De acordo com um estudo recente apresentado na Conferência Internacional da Associação de Alzheimer, mais da metade dos casos da doença de Alzheimer poderiam potencialmente ser prevenidos através de mudanças no estilo de vida e tratamento ou prevenção de condições médicas crônicas.

Pesquisas anteriores já identificavam uma série de fatores de risco para a doença de Alzheimer – incluindo doenças cardíacas e seus fatores de risco, níveis de atividade física e estímulo mental, e alimentação – mas não era claro como modificando esses fatores de risco resultaria na redução dos casos de Alzheimer.

Cientistas utilizaram modelagem matemática para calcular a porcentagem de casos de Alzheimer que poderiam ser atribuídos a esses fatores de risco modificáveis e, embora as premissas utilizadas ainda tenham que ser validadas, identificaram que sete fatores de risco contribuem para 17,2 milhões de casos no mundo todo, ou 51% de todos os casos.

O estudo conduzido pela equipe da Dra. Deborah Barnes, da Universidade da Califórnia, divulgou a proporção dos casos de Alzheimer no mundo que são potencialmente atribuíveis a cada um dos sete fatores de risco:

Baixo nível educacional: 19%
Fumo: 14%
Inatividade física: 13%
Depressão: 11%
Hipertensão na meia idade: 5%
Obesidade na meia idade: 2%
Diabetes: 2%
Os pesquisadores ficaram surpresos com a descoberta de que fatores como a falta de atividade física e fumar contribuem para mais casos de Alzheimer do que doenças cardiovasculares, de acordo com o modelo. Mas isso sugere que mudanças de estilo de vida relativamente simples como manter a mente ativa, aumentar a atividade física e parar de fumar podem ter um impacto dramático na redução número de casos de Alzheimer ao longo do tempo.

Como já divulgamos no artigo Mais um motivo para se praticar exercícios cerebrais, a doença de Alzheimer vem se tornando mais comum e um grande peso econômico para os sistemas de saúde na medida em que a população envelhece. Apesar das diversas pesquisas sobre o assunto, principalmente nos países ricos, ainda não há cura. Nos Estados Unidos, a doença de Alzheimer é a única causa de morte dentre as 10 maiores naquele país que não pode ser curada. E também a única em que as mortes estão crescendo enquanto as das outras doenças diminuem.

Então, você está esperando o que? Comece já a mudar seu estilo de vida e estimule seus familiares e amigos a fazerem o mesmo.

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