quarta-feira, 25 de maio de 2011

A Chupeta


A Chupeta
*Por Henrique Klajner - pediatra

A chupeta é um assunto que preocupa educadores, pais e familiares. Introduzir ou não? Por quê? Para quê? Quando? Quando tirar? Há vantagens ou prejuízos com seu uso?
Essas dúvidas são universais, constantes. Não há um consenso. As opiniões de estudiosos e de leigos divergem e os “problemas” criados pela chupeta são invariavelmente trazidos para o pediatra ajudar a resolver.
A chupeta é um objeto que há muito tempo se dá à criança por vários motivos. Em primeiro lugar, ela induz o recém-nascido à sucção, reflexo natural, inato e instintivo através do qual ele se alimenta. O exercício do sugar fortalece toda musculatura da face, boca, língua, faringe, laringe, incrementando a boa nutrição (sucção forte estimula a produção do melhor leite pela mãe), o sono, a respiração, o berro e a mímica facial.
Foi comprovado que a amamentação nos seios é o melhor exercício de sucção por ser constante, repetitivo, cíclico e oferecer enorme resistência natural à saída do leite. Por isto, sempre oriento os pais a estimularem seus bebês a serem amamentados nos seios por todas as vantagens incontestes, para fortalecer a musculatura envolvida na sucção e potencializá-la ao máximo.
Porém, mesmo durante os intervalos entre as mamadas, esse reflexo de sucção se mantém e se revela pelo ato de sugar quando alguma coisa entra em contato com os lábios do bebê. Neste caso, a chupeta “ortodôntica” estimula muito a sucção e os exercícios musculares porque seu formato imita o bico dos seios durante a mamada.
Então, cientificamente, a chupeta é indicada para estimular a máxima sucção do recém-nascido e garantir a sua máxima nutrição. O reflexo da sucção é tão presente (parece que o bebê precisa, realmente, da sucção forte para sobreviver) que, sem chupeta, ele acaba sugando o dedo ou algo que esteja ao seu alcance.
Até dez anos atrás, eu pedia que, terminada a mamada e a eructação, ao por o bebê no berço, os pais oferecessem a chupeta ortodôntica para ele manter os movimentos de sucção e exercitar mais a musculatura. Mas, assim que adormecesse, cessados os movimentos, que tirassem a chupeta do berço e não voltassem a lhe oferecer antes de terminada a próxima mamada.
Mas, é normal o bebê mover-se, resmungar, “pigarrear” durante o sono e berrar quando tem alguma necessidade. Preocupados com essas manifestações, e ainda destreinados para cuidar do bebê, os pais acabavam interpretando estes sinais como necessidade de ter a chupeta e voltavam a lhe oferecer, antes mesmo de atinar com a sua causa.
Sem ter a necessidade satisfeita e, irritado por isso, recebendo a chupeta, o bebê acaba por adormecer (o sono é imperioso). Depois de três experiências semelhantes, a chupeta é por ele incorporada como necessidade básica (porque foi instituída pelos “dirigentes” do seu meio), reclamada quando não a tem à disposição e utilizada pelos pais e cuidadores como “calmante do bebê irritado”. Esquecem que a irritação não começou por causa da falta da chupeta, mas, sim, pela não satisfação da sua necessidade primária.
Com o tempo, a chupeta passa a integrar o “mundo verdadeiro” da criança como condicionamento e elemento obrigatório para a sua estabilidade psico-emocional, muito difícil de ser eliminada pelos “escândalos” que provoca nas tentativas de suprimi-la (os pais cedem para evitá-los). Assim, sua presença na boca torna-se praticamente contínua levando a várias conseqüências funestas e indesejáveis como: perda de apetite (com má nutrição, baixo ganho pondo-estatural), distenção abdominal constante com dor (excessiva deglutição de ar), deformidade do palato e da dentição primária e secundária, respiração predominantemente bucal, excesso de baba, dislalias (erros na articulação dos fonemas – falar errado).
Uma das mais importantes conseqüências do uso prolongado da chupeta é ela simbolizar a valorização excessiva da boca e da sucção pelo seu meio, fazendo com que a criança se “fixe” na fase oral e não consiga avançar para as fases seguintes - mantém-se infantilizada, com sérios retardos nas auto-aquisições importantes para a sua evolução e maturidade. Assim, ela continua a utilizar a boca e a sucção como elementos importantes para seu relacionamento com o mundo, principalmente em situações de estresses que não consegue administrar: roer unha, chupar dedos, mascar chicletes e outros objetos e, na adolescência, fumar com suas conseqüências.
Há cerca de dez anos, percebi que não conseguiria manter os pais distantes da tentação de oferecer a chupeta além do necessário. Então, para evitar as conseqüências do seu “super-uso”, a solução seria retirá-la da rotina da criança antes dos dez meses de idade, enquanto a dependência ainda não estivesse instalada. Mas, diante da sua insistência escandalosa em mantê-la, os pais não conseguiam ser firmes o suficiente para isso e o seu uso tornava-se um vício que se perpetuava sem perspectivas de um final feliz.
Concomitantemente, verifiquei que a amamentação e a futura saúde bucal se mantinham excelentes nas crianças as quais eu pedia para que nunca a oferecesse. Então, concluí que a chupeta poderia ser definitivamente afastada de todas as crianças, mesmo depois dos dois meses, quando todas têm grande necessidade de morder a mão devido à dentição, e mesmo daquelas pertencentes aos 15% que, depois, tendem a chupar o dedo.
Atualmente, a minha orientação é de que a chupeta nunca é necessária. Sua utilidade se resume às crianças portadoras de patologias neurológicas ou de malformações causadoras de sucção fraca e retardos que necessitam de uma estimulação ostensiva. E, assim mesmo, sob a orientação de especialistas.

* Dr. Henrique Klajner (klajner@uol.com.br) é pediatra, formado pela Faculdade de Medicina da USP (1965), especializado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, professor em cursos de especialização, mestrado e doutorado e autor de 4 livros livros (o último, entitulado “A auto-estimulação e seus reflexos na educação global”, ainda em fase final de edição)

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