segunda-feira, 4 de julho de 2011

Agressividade infantil


Agressividade infantil


Causa ou consequência?



Existem factores familiares e de contexto escolar que intervêm na agressividade infantil, um problema que pode começar desde tenra idade e assumir contornos preocupantes conforme as crianças vão crescendo. A Dr.ª Rita Antunes, psicóloga do desenvolvimento da Clínica Cuf Torres Vedras, ajuda-nos a perceber como se manifesta este problema e de que forma os pais e os professores o podem minimizar.

Quando se pode manifestar a agressividade infantil?
Os comportamentos agressivos na infância podem manifestar-se numa idade precoce. Embora na idade escolar ou seja, a partir dos 6/7 anos, se manifestem e observem um maior número de casos de agressividade, existem também já diversos estudos nomeadamente, a nível internacional, que apontam a idade pré-escolar como uma fase onde poderão já ocorrer este tipo de comportamentos e que se poderão tender a agravar caso se mantenham e consolidem ao longo das várias etapas de desenvolvimento das crianças.
Neste contexto, e para alémda variável agressividade infantil e do factor idade, os pais, educadores e professores deverão estar também particularmente atentos ao contexto em que surge o comportamento agressivo (quais as causas e as consequências do comportamento para a criança), ao meio familiar e ao meio escolar em que a criança se encontra inserida (quais os estilos educativos; quais as dinâmicas e comportamentos familiares; quais os padrões educacionais na escolar). Todas estas variáveis são extremamente importantes para aferirmos tratar-se de um acto isolado de agressividade e que se possa considerar comum à fase de desenvolvimento em que a criança se encontra ou se pelo contrário, se observamos tratar-se de um comportamento intencional, repetitivo e entre crianças onde exista uma relação de desequilíbrio de poder (agressor vs vítima).

Em idade pré-escolar, a criança tende a usar mais a agressividade quanto maior for o desejo de ter controlo sobre o outro e/ou sobre alguma coisa

Nas crianças em idade pré-escolar, quais os sinais de alerta de potenciais jovens agressores?
A idade pré-escolar assume cada vez mais um papel de relevo nomeadamente no que concerne à prevenção de comportamentos agressivos que poderão assumir contornos mais graves ao longo do desenvolvimento infantil.
No entanto, existem comportamentos que são típicos desta fase do desenvolvimento e que não devem ser confundidos com o conceito de agressividade infantil. Até aos 2/3 anos de idade, muitas vezes a criança não consegue verbalizar e explicar as suas angústias e frustrações, pelo que, quando quer chamar a atenção de alguém (como por exemplo, para conseguir o brinquedo com que outra criança está a brincar) poderá assumir uma atitude mais impulsiva e agressiva, tal como puxar, bater ou morder. Mas isso não quer dizer que a criança seja agressiva; pelo contrário, é a maneira que ela encontra para conseguir demonstrar o que quer e/ou o que sente.
Em idade pré-escolar, a criança tende a usar mais a agressividade quanto maior for o desejo de ter controlo sobre o outro e/ou sobre alguma coisa/objecto e uma vez que, não consegue mobilizar outro tipo de recursos, utiliza as mais diversas formas de agressividade directa.
Nestas situações sugere-se ao adulto, sempre que intervenha na situação, que o faça tentando não se demonstrar ansioso ou inseguro pois, poderá causar ainda maior ansiedade na criança. Pelo contrário, deve tentar, de uma forma clara, objectiva, num tom de voz calmo e seguro, demonstrar “como” e “porque” é que o comportamento foi inadequado.
A partir dos 4/6 anos, a criança já se encontra mais disponível para socializar, para se relacionar com outras crianças e então, já é típico observarmos o início da formação de alguns grupinhos de crianças em detrimento de outras, a escolha das mesmas crianças sempre para as mesmas brincadeiras, deixando outras de parte. Denota-se ainda a troca de algumas provocações entre eles e, neste período, os pais e educadores deverão estar mais atentos para que este tipo de comportamento não se replique e consolide pois será muito mais difícil intervir de forma a reajustá-lo mais tarde.

Existem diversos estudos nomeadamente, a nível internacional, que apontam a idade pré-escolar como uma fase onde poderão já ocorrer este tipo de comportamentos

Quais as causas deste comportamento?
Os comportamentos agressivos na infância têm diversas causas sendo considerados multicausais e, acima de tudo, multifactoriais uma vez que, existem inúmeros factores de risco associados. Neste sentido e, para além de todas as suas características individuais da criança (temperamento, impulsividade, ausência de auto-controlo) são de salientar os dois contextos privilegiados durante o desenvolvimento da criança: o contexto familiar e o contexto escolar.
Do ponto de vista do contexto familiar, os estilos, as estratégias educativas e as competências parentais são factores de extrema relevância.
Concretizando, poderemos pensar por exemplo num estilo educativo mais permissivo, em que a criança pela não interiorização de regras e dos limites para os seus comportamentos poderá assumir mais facilmente atitudes impulsivas que quando contrariadas poderão despoletar em comportamentos agressivos (dificuldade em lidar como “não). Em contraponto, poderemos considerar também um contexto socio familiar em que a criança se sinta privada de afectividade (ausência de competências emocionais e afectivas dos progenitores), o que consequentemente aumentará a probabilidade da criança desenvolver dificuldades várias em ser empática, em se conseguir colocar no lugar do outro, assumindo assim mais facilmente o papel de agressor nas diversas interacções sociais.

Do ponto de vista do contexto familiar, os estilos, as estratégias educativas e as competências parentais são factores de extrema relevância

De que forma é que o contexto escolar influi a agressividade?
No contexto escolar devemos considerar igualmente inúmeros factores nomeadamente, a qualidade das interacções com diferentes crianças, a capacidade de adaptação a situações adversas e o tipo de brincadeiras adoptadas durante os recreios. Existem por exemplo, brincadeiras que poderão potenciar a ocorrência de comportamentos mais agressivos e/ou perpetuar a supremacia de uma criança sobre as restantes (aquele que assume sempre a postura de “líder” da brincadeira, do jogo). Por outro lado, poderão ocorrer situações em que o relacionamento com outro colega aumente os seus níveis de irritabilidade e de frustração (por não conseguir alcançar aquilo que quer), propiciando assumir atitudes irreflectidas e de maior agressividade.
Por outro lado, a não supervisão de um adulto (professores, educadores ou auxiliares) para intervir após a ocorrência imediata de um comportamento agressivo (seja dentro da sala de aula, seja no recreio) poderá privilegiar a repetição deste tipo de interacções negativas e agressivas.Na realidade e de acordo com os diversos investigadores da área, no campo da agressividade infantil, são inúmeras as variáveis que interagem entre si influenciando-se mutuamente, podendo nas mais diversas situações aumentar a ocorrência e a incidência de comportamentos agressivos não sendo, por isso, possível considerar-se qualquer tipo de relação causal simples (causa vs efeito; situação “x” vs comportamento agressivo “y”).
Por fime na sequência dos vários exemplos supracitados é ainda de salientar que, a agressividade infantil enquanto uma área de extrema complexidade e relevância ao longo de todo o desenvolvimento infantil, implica indubitavelmente que o caso de cada criança seja analisado individualizadamente, quer pelos pais, quer pelos educadores, professores bem como, por todos os profissionais de saúde envolvidos.

Um dos aspectos mais importantes a trabalhar no caso das vítimas é intervindo na sua auto-estima, os seus níveis de auto-confiança e auto-conceito e as competências relacionais e sociais

Que tipo de intervenção deve existir tanto para quem é vítima como para o agressor?
Um dos aspectos mais importantes a trabalhar no caso das vítimas é intervindo ao nível da auto-estima, da auto-confiança e do auto-conceito e das competências relacionais e sociais. As capacidades de autonomia e de auto-afirmação da criança e o facto de saber que pode falar com os adultos (que pode desabafar e confiar neles) são áreas de intervenção de igual importância.
Deve privilegiar-se também o trabalho com pais e professores/educadores para uma melhor preparação e atenção a possíveis sinais de agressividade infantil ou até mesmo, nos casos de bullying. Na escola, devem privilegiar-se, sobretudo as dinâmicas de grupo dentro das turmas para promover a coesão do grupo bem como, a atribuição de papéis/tarefas de referência antecipando que a criança/jovem conseguirá alcançar os resultados desejados e, investir também em actividades de ocupação de tempos livres em que possam obter sucesso e criar novas relações positivas (teatro, dança, pintura, etc.). No caso dos agressores, é extremamente importante incidir sobre as questões relacionadas com a empatia, trabalhando a capacidade de se colocar no lugar do outro e recorrendo a diversas metodologias como jogos pedagógicos que favorecem as interacções positivas (em casa e/ou na escola) e os trabalhos de grupo para potenciar a criação de um espírito de grupo. Outra área igualmente importante está relacionada a gestão de stress por parte dos agressores e com as dificuldades que demonstram ao serem confrontados com um “não” ou com situações frustrantes (situações em que não consigam alcançar os seus objectivos e em que acabam por perder o auto-controlo, passando mais facilmente à acção).

"No caso dos agressores, é extremamente importante incidir sobre as questões relacionadas com a empatia, trabalhando a capacidade de se colocar no lugar do outro e recorrendo a diversas metodologias como jogos pedagógicos que favorecem as interacções positivas e os trabalhos de grupo para potenciar a criação de um espírito de grupo”

Sapo-familia

Nenhum comentário:

Postar um comentário